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Destruição do Museu Nacional é a imagem de nossa falência

André Barcinski

02/09/2018 21h52

Foto: Marcello Dias / Futura Press

As imagens do fogo destruindo o lindo prédio do Museu Nacional, na Quinta da Boa Vista, no Rio de Janeiro, são simbólicas da falência da sociedade brasileira.

Já vimos esse filme antes – nos incêndios na Cinemateca Brasileira e Museu da Língua Portuguesa – e sabemos o que vai acontecer nos próximos dias: um monte de reportagens tristes sobre a importância dos acervos perdidos e o prejuízo incalculável a pesquisas e estudos.

Daqui a alguns dias, um especialista qualquer vai explicar o motivo do incêndio, alguém vai levar a culpa, e políticos eleitos no fim do ano vão prometer reconstruir o que não pode ser reconstruído, porque era único e insubstituível.

Mas nada vai mudar.

Governos vão continuar mendigando recursos para a preservação de nosso patrimônio artístico e cultural, bibliotecas e acervos de documentos e obras de arte continuarão trancados em salas mofadas, sendo comidos por cupins.

A população vai continuar pichando monumentos históricos, destruindo estátuas públicas e ignorando os museus e acervos que ainda conseguem manter-se abertos. Alguém lembra que o Museu do Ipiranga continua fechado?

Moro em Paraty, uma jóia da arquitetura colonial brasileira. Em frente à Igreja de Santa Rita, na beira do mar, há alguns canhões de mais de 200 anos. Todos estão pichados e riscados. Não há um dia em que eu passe por lá e não encontre latas de cerveja e sacos de lixo enfiados dentro dos canhões.

Isso importa? Bom, perto da destruição de um museu de 200 anos, não é nada, mas é uma pequena mostra de descaso com o patrimônio histórico e cultural.

Somos um país pobre e violento, e conheço gente que usa nossos problemas sociais para justificar o desamor dos brasileiros por nossa história e cultura.

Quando ouço esse papinho furado, sugiro à pessoa dar um pulo em Oaxaca, no sul do México. Também é um lugar pobre, com imenso abismo entre ricos e pobres, uma gigantesca população miserável, e altos níveis de violência. Mas você anda pelas ruas e não vê UMA obra de arte pichada, um monumento sujo, ou lixo jogado em prédios históricos. É comovente ver o orgulho com que os moradores locais falam de suas igrejas e museus.

Outra coisa que vai acontecer nos próximos dias: pessoas vão usar o incêndio no Museu Nacional para partidarizar a discussão e apontar culpados. Outro papinho furado: a falência do Brasil – falência econômica, mas também cultural, moral e ética – é trabalho de décadas, e resultado de um grande esforço coletivo.

O blog volta na quarta, dia 5.

Visite meu site: andrebarcinski.com.br

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Sobre o autor

André Barcinski é jornalista, roteirista e diretor de TV. É crítico de cinema e música da “Folha de S. Paulo”. Escreveu sete livros, incluindo “Barulho” (1992), vencedor do prêmio Jabuti de melhor reportagem. Roteirizou a série de TV “Zé do Caixão” (2015), do canal Space, e dirigiu o documentário “Maldito” (2001), sobre o cineasta José Mojica Marins, vencedor do Prêmio do Júri do Festival de Sundance (EUA). Em 2019, dirigiu a série documental “História Secreta do Pop Brasileiro”.

Sobre o blog

Música, cinema, livros, TV, e tudo que compõe o universo da cultura pop estará no blog, atualizado às terças-feiras.