O filme mais "de direita" já feito em Hollywood
André Barcinski
08/08/2018 05h59
Claro que não é. Por "esquerda", entenda-se "liberal". Mas tanto lá quanto aqui, as noções de "esquerda" e "direita" estão bastante distorcidas em relação ao que aprendemos na escola.
Agora, se você quiser ver um filme assumidamente de direita, ligue no Telecine Cult sexta, dia 10, às 22h, e veja "Amanhecer Violento" ("Red Dawn"), que John Milius dirigiu em 1984.
Filmado em meio à Guerra Fria e à presidência de Ronald Reagan, "Amanhecer Violento" conta a história de um grupo de rapazes que se junta para tentar impedir a invasão dos Estados Unidos por tropas comunistas.
Tudo começa numa pacata cidade do Colorado, onde as aulas são interrompidas quando paraquedistas soviéticos pousam em frente à escola. Os alunos descobrem que o país inteiro está sitiado e que a capital, Washington, D.C., foi destruída por bombas nucleares.
O elenco reúne vários bonitinhos e bonitinhas que fizeram sucesso em comédias e dramas adolescentes dos anos 80: Patrick Swayze, C. Thomas Howell e Darren Dalton haviam atuado em "Vidas Sem Rumo" (1983), de Francis Ford Coppola; Charlie Sheen e Jennifer Gray fariam "Curtindo a Vida Adoidado", de John Hughes (1986), e Lea Thompson faria a mãe de Marty McFly em "De Volta para o Futuro", de Robert Zemeckis (1985).
Quando dirigiu "Amanhecer Violento", John Milius já era um dos diretores e roteiristas mais bem sucedidos de Hollywood, tendo dirigido "Dillinger" (1973) e "Conan, o Bárbaro" (1982), e escrito frases icônicas do cinema, como "Amo o cheiro de napalm de manhã", de "Apocalypse Now" (1979), e "Are you feeling lucky, punk?", de "Dirty Harry" (1971). O personagem de John Goodman em "O Grande Lebowski", Walter Sobchak, foi inspirado em Milius.
Em "Amanhecer Violento", Milius ressuscitou o cinema anticomunista dos anos 1950, mas com uma roupagem moderna. A ideia de juntar um elenco de galãzinhos adolescentes foi genial, não só por atrair um público mais jovem, mas por contrapor a imagem dos Estados Unidos "adolescente" e "ingênuo" com a brutalidade dos adultos soviéticos.
Coincidência ou não, o fato é que o filme foi lançado em agosto de 1984, exatamente na época das Olimpíadas de Los Angeles, boicotada pela União Soviética em represália ao boicote norte-americano às Olimpíadas de Moscou, em 1980.
À época do lançamento, "Amanhecer Violento" foi considerado o filme mais brutal já feito, com 2,23 mortes por minuto (hoje ocupa, segundo o site Moviebodycounts.com, a modestíssima 47ª posição).
As críticas foram péssimas, mas o filme inspirou muita gente. Um dos fãs era o capitão do Exercito americano Geoffrey McMurray, que comandou a operação de captura de Saddam Hussein, em 2003, e batizou a operação de "Red Dawn". McMurray disse ao jornal "USA Today": "O nome é ideal porque o filme era patriótico e pró-americano". John Milius aprovou: "Fiquei honrado e orgulhoso. É muito bom fazer algo que deixe um legado".
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Sobre o autor
André Barcinski é jornalista, roteirista e diretor de TV. É crítico de cinema e música da “Folha de S. Paulo”. Escreveu sete livros, incluindo “Barulho” (1992), vencedor do prêmio Jabuti de melhor reportagem. Roteirizou a série de TV “Zé do Caixão” (2015), do canal Space, e dirigiu o documentário “Maldito” (2001), sobre o cineasta José Mojica Marins, vencedor do Prêmio do Júri do Festival de Sundance (EUA). Em 2019, dirigiu a série documental “História Secreta do Pop Brasileiro”.
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