Há 40 anos, a discoteca reinou no Brasil
André Barcinski
26/07/2018 22h44
Em julho de 1978, a TV Globo estreou a novela "Dancin' Days", com Sônia Braga, Antônio Fagundes, Lídia Brondi, Joanna Fomm e Glória Pires. Foi um grande sucesso de público e marcou o auge de popularidade da discoteca no Brasil.
Basta analisar as paradas de LPs e compactos do fim dos anos 1970 para ver como a discoteca dominou o Brasil.
Em 1977, dos cinquenta discos mais vendidos no país, pelo menos vinte, incluindo LPs e compactos, estavam associados ao gênero, entre baladas lentas para dançar agarradinho e músicas mais aceleradas e animadas. O segundo disco mais vendido do ano – e que só perdia para o de Roberto Carlos – foi I Love to Love, de Tina Charles. Várias canções e LPs capturaram o gosto popular: "If You Leave me Now" (Chicago), "Don't Go Breaking My Heart" (Elton John e Kiki Dee), "When You're Gone" (Maggie MacNeal), "Fernando" (Abba), "Isn't She Lovely"(Stevie Wonder), "Nice and Slow" (Jesse Green) e "Dance and Shake Your Tambourine" (Universal Robot Band).
A produção nacional não ficou atrás. "Meu sangue ferve por você" (Sidney Magal), "Desliga o mundo" (Painel de Controle) e "My Dear" (do Manchester, grupo brasileiro que cantava em inglês) venderam uma enormidade. Gal Costa lançou "Tigresa", tributo de Caetano Veloso a Sônia Braga ("Que gostava de política em 1966/ e hoje dança no Frenetic Dancin' Days"), e Claudia Telles estourou com "Fim de tarde", baladão soul de Robson Jorge e Mauro Motta.
Em 1978, o domínio foi ainda maior: mais de 60% dos compactos e LPs que lideraram as paradas estavam associados à discoteca. Os sucessos internacionais incluíam "Easy" (Commodores), "The Closer I Get to You" (Roberta Flack), "Zodiacs" (Roberta Kelly), "How Deep Is Your Love" (Bee Gees), "Emotion" (Samantha Sang), "Dance a Little Bit Closer" (Charo), "Os embalos de sábado à noite" (Bee Gees e outros), "Baby Come Back" (Player), "Scotch Machine" (Voyage), "Rendezvous" (Tina Charles), "Automatic Lover" (Dee D. Jackson) e "Get Off" (Foxy).
Já a produção brasileira de discoteca vendeu muito com "Perigosa" (Frenéticas), "Amante Latino" (Sidney Magal), "A noite vai chegar" (Lady Zu), "Quem é ele?" (Miss Lene, nome artístico de cearense Frankislene Ribeiro) e "Tim Maia Disco Club" (Tim Maia). Ney Matogrosso apareceu dançando em uma discoteca com os Trapalhões para divulgar "Não existe pecado ao sul do Equador", faixa dançante de seu LP "Feitiço", enquanto a atriz Elizângela gravou a sacolejante "Pertinho de você". A dupla Ana e Ângela emplacou o hit "Cara de pau" (Como ele é cara de pau/ mas um dia vai se dar mal/ mesmo sendo amigo/ ele é um perigo/ não confie nele, não/ seu apelido é Gavião") na novela "Te Contei?", da TV Globo, e até o grupo infantil A Patotinha se rendeu à disco, com o LP "Brincando de roda numa discothèque". Foi um massacre.
Voltando a "Dancin' Days": Nelson Motta e Ruben Barra fizeram a música-tema da novela, cantada pelas Frenéticas. A expectativa da emissora com a música era tanta que o produtor Mazzola resolveu gravar a base em Los Angeles, com o conhecido produtor e arranjador John D'Andrea e um timaço de músicos de estúdio, incluindo o guitarrista Jay Graydon [que trabalhara com Diana Ross, Jackson Five], o baterista Jeff Porcaro, do grupo Toto, e o grande percussionista brasileiro Paulinho da Costa. "Dancin' Days" foi o destaque da trilha nacional da novela. Já o disco com a trilha internacional abria com um impressionante medley com trechos de oito faixas dos Bee Gees, cantado pelas Harmony Cats e tocado pelo grupo paulistano Os Carbonos e pelo guitarrista Reinaldo Brito, com arranjo de Eduardo Assad e produção de Hélio Costa Manso.
Acredite, esse medley dos Bee Gees (ouça aqui) foi gravado no Brasil.
Um ótimo fim de semana a todos.
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Sobre o autor
André Barcinski é jornalista, roteirista e diretor de TV. É crítico de cinema e música da “Folha de S. Paulo”. Escreveu sete livros, incluindo “Barulho” (1992), vencedor do prêmio Jabuti de melhor reportagem. Roteirizou a série de TV “Zé do Caixão” (2015), do canal Space, e dirigiu o documentário “Maldito” (2001), sobre o cineasta José Mojica Marins, vencedor do Prêmio do Júri do Festival de Sundance (EUA). Em 2019, dirigiu a série documental “História Secreta do Pop Brasileiro”.
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Música, cinema, livros, TV, e tudo que compõe o universo da cultura pop estará no blog, atualizado às terças-feiras.