Um amor supremo: a música cósmica de Alice Coltrane
André Barcinski
21/03/2018 05h59
Em meados do ano passado, a gravadora Luaka Bop, de David Byrne, lançou "World Spirituality Classics 1: The Ecstatic Music of Alice Coltrane Turiyasangitananda". O disco é uma coletânea extraída de quatro fitas cassete gravadas entre 1982 e 1995 num ashram, um centro de retiro e meditação, por Turiyasangitananda, também conhecida por Alice Coltrane.
A música é sublime: canções de louvor, mantras e sons para meditação, em que Alice canta e toca harpa e teclados, acompanhada por um coral de 24 pessoas. À época, as gravações foram copiadas em poucas centenas de fitas, distribuídas apenas para freqüentadores do ashram, que fica na Califórnia e foi fundado no início dos anos 80 pela própria Alice.
A LOVE SUPREME
Muita gente ainda se refere a Alice Coltrane como "a viúva de John Coltrane", o que é uma tremenda injustiça. Claro que o nome dela estará sempre ligado ao do saxofonista que revolucionou o jazz com álbuns como "Giant Steps" (1960), "Olé Coltrane" (1961) e "A Love Supreme" (1965), mas Alice já tinha uma carreira importante de pianista antes de conhecer John, em 1963, e lançou discos absurdamente lindos depois da morte do marido, em 1967.
Depois da morte de John, Alice aprofundou-se cada vez mais nos estudos filosóficos e religiosos, enquanto levava sua música para um caminho cada vez mais experimental e lançava discos arrebatadores como "Journey in Satchidanda" (1970).
Em meados dos anos 70, Alice mudou-se com a família para um retiro na Califórnia. Alguns anos depois, tornou-se líder de seu próprio ashram, passou a gravar apenas música devocional, e sumiu da vida pública. Em 2004, surpreendeu ao lançar "Translinear Light", seu primeiro disco por uma grande gravadora em 16 anos. Morreu em 2007, aos 69 anos, de problemas respiratórios.
Para quem quiser conhecer mais sobre a obra de Alice Coltrane, um bom ponto de partida é a coletânea "Anthology", lançada em 2014. Boa viagem.
Sobre o autor
André Barcinski é jornalista, roteirista e diretor de TV. É crítico de cinema e música da “Folha de S. Paulo”. Escreveu sete livros, incluindo “Barulho” (1992), vencedor do prêmio Jabuti de melhor reportagem. Roteirizou a série de TV “Zé do Caixão” (2015), do canal Space, e dirigiu o documentário “Maldito” (2001), sobre o cineasta José Mojica Marins, vencedor do Prêmio do Júri do Festival de Sundance (EUA). Em 2019, dirigiu a série documental “História Secreta do Pop Brasileiro”.
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