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Já houve uma série melhor que “Fargo”?

André Barcinski

07/02/2018 05h59

Com indesculpável atraso e depois de incontáveis sugestões de leitores, vi a primeira temporada da série "Fargo". Alguém já fez uma série melhor?

Não sou obcecado por séries e estou bastante desatualizado com os lançamentos ("Fargo" é de 2014!), então se alguém conhecer uma série que se compare a esta, por favor, avise.

Das séries que tentei acompanhar, incluindo campeãs da crítica como "Mad Men", "Breaking Bad", "House of Cards" e "Sopranos", nenhuma chega perto de "Fargo" em qualidade de texto, direção e atuações. Acho que as únicas que fazem sombra são as primeiras temporadas de "The Wire" e "True Detective". De resto, "Fargo" nada de braçada.

A série é inspirada no filme homônimo, que foi escrito e dirigido pelos irmãos Joel e Ethan Coen, em 1996. O roteirista da série, Noah Hawley, não se limitou a fazer uma versão estendida do filme dos Coen, mas utilizou o universo criado por eles no filme – o de supostamente pacatas cidadezinhas do meio-oeste americano que são palcos de crimes bárbaros – para criar um épico do humor negro.

A primeira temporada tem uma história parecida com a do filme: um corretor de seguros, Lester Nygaard (o ótimo Martin Freeman) encontra, por acaso, um assassino de aluguel, Lorne Malvo (Billy Bob Thornton, impagável), e a conversa resulta em um crime cometido por Malvo (a história de dois estranhos que "combinam" um assassinato lembra "Strangers on a Train", grande romance policial de Patricia Highsmith que inspirou o filme "Pacto Sinistro", de Hitchcock). Daí em diante, as barbaridades se sucedem: outros assassinos de aluguel chegam à cidadezinha para vingar o crime de Malvo, e pessoas – inocentes e culpadas – são mortas aos montes.

Uma das grandes qualidades de "Fargo" é a qualidade dos personagens periféricos à história principal: há a policial Molly Solverson (Allsion Tolman), que desconfia de Nygaard; há o policial covardão, Gus Grimly (Colin Hanks, filho de Tom Hanks), que começa um flerte com Molly, e há o magnata Stavros Milos (o excelente Oliver Platt), o rei do supermercado local, que esconde segredos macabros em seu passado. Em comum, são todos personagens interessantes, únicos e carregados da bizarrice típica das criações dos irmãos Coen.

"Fargo" foi uma das poucas séries que vi que não se estendeu além da conta: a primeira temporada tem dez episódios, e não houve um minuto sequer de enrolação ou cenas supérfluas. Começarei a ver a segunda temporada imediatamente.

Um ótimo Carnaval a todos. O blog volta na quarta-feira de Cinzas.

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Sobre o autor

André Barcinski é jornalista, roteirista e diretor de TV. É crítico de cinema e música da “Folha de S. Paulo”. Escreveu sete livros, incluindo “Barulho” (1992), vencedor do prêmio Jabuti de melhor reportagem. Roteirizou a série de TV “Zé do Caixão” (2015), do canal Space, e dirigiu o documentário “Maldito” (2001), sobre o cineasta José Mojica Marins, vencedor do Prêmio do Júri do Festival de Sundance (EUA). Em 2019, dirigiu a série documental “História Secreta do Pop Brasileiro”.

Sobre o blog

Música, cinema, livros, TV, e tudo que compõe o universo da cultura pop estará no blog, atualizado às terças-feiras.