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Disco e shows lembram um marco do movimento punk no Brasil

André Barcinski

24/11/2017 05h59


Em 27 e 28 de novembro de 1982, uma bizarra turba invadiu o SESC Pompéia: cerca de três mil jovens, alguns com alfinetes espetados nos rostos e quase todos ostentando camisetas de suas bandas favoritas, como Clash, Ramones, Discharge e Dead Kennedys, apareceram de bueiros e buracos para mostrar que o punk brasileiro estava bem, obrigado. Era o festival "O Começo do Fim do Mundo", que está sendo celebrado em shows e com o relançamento do disco com a gravação do evento.

Essea dias, escrevi sobre o tema na "Folha":

Um documento essencial da história da cena alternativa brasileira ressurge com o lançamento de uma versão ampliada do LP "O Começo do Fim do Mundo". Gravado em 27 e 28 de novembro de 1982, no SESC Pompéia, o disco registrou o maior festival punk acontecido até então no Brasil: cerca de 20 bandas tocaram para um público estimado em três mil pessoas.

Organizado pelo autor e dramaturgo Antonio Bivar (que em 1982 lançava o influente livro "O que é Punk") e pelo músico Callegari, da banda Inocentes, o festival reuniu bandas que teriam carreiras longevas, como Ratos de Porão, Cólera, Inocentes e Olho Seco, e outras que acabariam esquecidas, como Estado de Coma, Passeatas, Hino Mortal e o grupo feminino Skisitas.

O relançamento de "O Começo do Fim do Mundo" foi produzido pela Nada Nada Discos, selo especializado em reedições de compactos e LPs de punk e sons alternativos, sempre em edições caprichadas e com material que não constava das edições originais. Se o disco de 1982 era um LP simples, essa reedição é um LP duplo, com 23 músicas a mais que o original. O show foi gravado em fita cassete, e a qualidade técnica não é das melhores, mas o disco vale como registro histórico de um movimento importante de nossa cena musical alternativa.

Mas o destaque do relançamento é o material gráfico. A Nada Nada pôs as mãos num acervo inédito e riquíssimo de Paul Constantinides, um fotógrafo norte-americano que registrou o festival, mas nunca havia publicado as fotos. Constantinides focou sua atenção na plateia, capturando imagens dos jovens proletários que formavam a maioria do público.

A nova edição do disco traz um livreto de 36 páginas com as fotos de Constantinides, e só isso já valeria o preço do disco. As imagens são comoventes, capturando os jovens punks brasileiros em toda sua ingenuidade e originalidade. Longe das capitais do punk, como Londres e Nova York, os moleques criavam seu próprio visual, num simulacro tropicalista de Sid Vicious, com direito a coturnos e alfinetes espetados nos rostos, misturados a cabelos compridos de metaleiros e até gravatinhas "mod". No meio da plateia, um punk ostenta uma camiseta: "Paulo Maluf – Deputado Federal".

Veja algumas imagens do encarte de "O Começo do Fim do Mundo", com as fotos lindas de Paul Constantinides:

Foto: Paul Constatinides

Foto: Paul Constatinides

Foto: Paul Constatinides

Foto: Paul Constatinides

O show de relançamento do LP "O Começo do Fim do Mundo" acontece no SESC Pompéia (R. Clélia, 93, Lapa), domingo, 26 de novembro, às 18h30, mesma data do festival original em 1982. Para esse show, uma banda formada por Clemente (Inocentes), Mingau (Ratos de Porão) e Muniz (Fogo Cruzado), vai tocar todas as músicas do disco, acompanhados por membro das bandas Cólera, Lixomania, Olho Seco, Ulster, Skisitas, Dose Brutal, Neuróticos, Juízo Final, Suburbanos, Hino Mortal, Inocentes e Fogo Cruzado. O show fecha a programação do festival "40 Anos de Punk no Brasil", que tem ainda shows de Restos de Nada e AI-5 (24/11) e Mercenárias e Patife Band (25/11), esses dois às 21h30. Uma grande festa punk. E para quem ae interessa pelo assunto, sugiro também o ótimo documentário "Botinada! A Origem do Punk no Brasil", dirigido por meu amigo Gastão Moreira.

Um ótimo fim de semana a todos.

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Sobre o autor

André Barcinski é jornalista, roteirista e diretor de TV. É crítico de cinema e música da “Folha de S. Paulo”. Escreveu sete livros, incluindo “Barulho” (1992), vencedor do prêmio Jabuti de melhor reportagem. Roteirizou a série de TV “Zé do Caixão” (2015), do canal Space, e dirigiu o documentário “Maldito” (2001), sobre o cineasta José Mojica Marins, vencedor do Prêmio do Júri do Festival de Sundance (EUA). Em 2019, dirigiu a série documental “História Secreta do Pop Brasileiro”.

Sobre o blog

Música, cinema, livros, TV, e tudo que compõe o universo da cultura pop estará no blog, atualizado às terças-feiras.