Nada será como antes
André Barcinski
18/05/2017 11h55
Pode parecer paradoxal, mas em meio a uma das mais graves crises institucionais de nossa história, é impossível não estar otimista com o futuro do país.
Porque nada pode ser pior do que estava.
Nada pode ser pior do que o sistema em que empreiteiras e grandes grupos industriais controlavam o país às custas de relações escusas com o poder público.
Sou de uma geração que se acostumou a desacreditar no país e em suas instituições, e que se frustrou diversas vezes com políticos em que acreditávamos, mas que se revelaram tão ruins ou piores do que os que os precederam.
As lições foram amargas, e provocaram uma sensação de que as coisas nunca poderiam mudar enquanto o sistema não fosse implodido.
Hoje, pela primeira vez, sinto que isso pode ser diferente.
Porque, não importa o que aconteça – e espero que a saída seja a eleição direta (via emenda constirucional), única solução que apaziguaria o país – as coisas devem, em teoria, mudar.
Ninguém é ingênuo para achar que a situação vai melhorar de uma hora pra outra, mas dificilmente veremos uma relação tão promíscua entre empresas privadas e o poder público como a que existe hoje. Se a prisão não der um jeito nesses caras, o que pode dar?
Então, em meio ao caos, estou otimista. Isso pode significar um recomeço. Enquanto isso, assistiremos de camarote à implosão do sistema.
Um ótimo fim de semana a todos.
Sobre o autor
André Barcinski é jornalista, roteirista e diretor de TV. É crítico de cinema e música da “Folha de S. Paulo”. Escreveu sete livros, incluindo “Barulho” (1992), vencedor do prêmio Jabuti de melhor reportagem. Roteirizou a série de TV “Zé do Caixão” (2015), do canal Space, e dirigiu o documentário “Maldito” (2001), sobre o cineasta José Mojica Marins, vencedor do Prêmio do Júri do Festival de Sundance (EUA). Em 2019, dirigiu a série documental “História Secreta do Pop Brasileiro”.
Sobre o blog
Música, cinema, livros, TV, e tudo que compõe o universo da cultura pop estará no blog, atualizado às terças-feiras.