Quer conhecer a biblioteca particular de Philip Roth?
André Barcinski
30/11/2016 11h10
Há dois anos, o escritor norte-americano Philip Roth, 83, anunciou sua aposentadoria. "Nemesis", lançado em 2010, foi seu último romance.
Esses dias, Roth anunciou que doará sua biblioteca particular – cerca de quatro mil livros – para a Biblioteca Pública de Newark, sua cidade natal, no estado de New Jersey. O escritor disse que era uma forma de agradecer pelas incontáveis horas de sua infância e adolescência que passou naquela biblioteca pública.
Segundo reportagem do jornal "The New York Times", a Biblioteca Pública de Newark construirá uma seção especial para receber o acervo de Roth: "Os livros serão organizados em Newark da mesma forma que estão hoje na casa do escritor, em Connecticut", diz o artigo. "não exatamente uma janela na alma de Roth, mas evidência física dos escritores que ajudaram a formá-la: Salinger, Bellow, Malamud, Kafka e Bruno Schulz". Muitos dos volumes contêm anotações do próprio Roth.
Exemplos como esse são muito bonitos. Um escritor que, no fim da carreira, decide dividir com os leitores sua paixão pelos livros e seus autores prediletos.
Lendo sobre a doação de Roth, lembrei outros casos de artistas que doaram grana e esforço para o bem público:
Martin Scorsese – no fim dos anos 80, quando Scorsese percebeu que negativos de filmes antigos estavam se deteriorando e corriam o risco de se perderem para sempre, botou grana do próprio bolso, pediu ajuda de amigos e criou a Film Foundation, que já salvou mais de seiscentos filmes antigos.
Jack White – em 2014, White doou 200 mil dólares à Fundação Nacional de Preservação de Fonogramas, organização que preserva a história dos discos e gravações norte-americanos.
Quentin Tarantino – há dois anos, o cineasta assumiu a função de programador do New Beverly Cinema, um cultuado cinema de Los Angeles, que ele ajuda financeiramente desde 2007.
No Brasil, infelizmente, os exemplos são poucos e vêm das pessoas mais inesperadas, como Vampeta, o divertido jogador de futebol, que botou dinheiro do próprio bolso para salvar o único cinema de sua cidade natal, Nazaré das Farinhas, na Bahia.
Sobre o autor
André Barcinski é jornalista, roteirista e diretor de TV. É crítico de cinema e música da “Folha de S. Paulo”. Escreveu sete livros, incluindo “Barulho” (1992), vencedor do prêmio Jabuti de melhor reportagem. Roteirizou a série de TV “Zé do Caixão” (2015), do canal Space, e dirigiu o documentário “Maldito” (2001), sobre o cineasta José Mojica Marins, vencedor do Prêmio do Júri do Festival de Sundance (EUA). Em 2019, dirigiu a série documental “História Secreta do Pop Brasileiro”.
Sobre o blog
Música, cinema, livros, TV, e tudo que compõe o universo da cultura pop estará no blog, atualizado às terças-feiras.