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"Back to Black": o epitáfio de Amy Winehouse faz 10 anos

André Barcinski

26/10/2016 05h59

Há dez anos – em 27 de outubro de 2006 – Amy Winehouse lançava seu segundo álbum, "Back to Black". Foi um imenso sucesso de crítica e o segundo disco mais vendido dos anos 2000 no Reino Unido, atrás apenas de "21", de Adele.

O disco também foi responsável pelo surgimento de cantoras como Duffy e a própria Adele. Depois do estouro de "Back to Black", toda gravadora partiu em busca de uma nova Amy Winehouse.

Além de um ótimo trabalho de soul e rhythm'n'blues, "Back to Black" é prova da inteligência e tino comercial dos produtores Salaam Remi e Mark Ronson.

Remi havia produzido "Frank" (2003), disco de estreia da cantora, um trabalho bem mais jazzístico, mas via em Amy uma artista de grande potencial comercial. Quando chegou a hora de fazer outro disco, ele levou a cabo o plano de transformar Amy em uma diva pop. Para isso, contou com a ajuda de Ronson, um DJ, produtor e apresentador de rádio que circulava bem pelos círculos do rap, rock e pop (seu primeiro disco solo, "Here Come the Fuzz", de 2003, teve participações de Jack White, Mos Def e Nikka Costa, entre outros).

Remi e Ronson praticamente criaram uma nova identidade para Amy Winehouse, adicionando à sua música outros elementos, como o soul da Motown e o clima festivo e dançante das "girl groups" dos anos 60 (Ronettes, Supremes, etc.).

O grande mérito de "Back to Black" foi criar canções de qualidade e apelo comercial. O disco tinha um som muito bem feito e com ótimas influências, e podia ser ouvido tanto em rádios pop quanto em emissoras de som mais "sofisticado". Críticos adoraram, e o público também.

Claro que o fato de Amy cantar sobre sua personalidade polêmica e seus vícios (como em "Rehab"), aumentou ainda mais o interesse pelo disco, mas é impossível negar sua qualidade. Ouvindo "Back to Black" hoje, sem a comoção midiática em torno da cantora e dos muitos escândalos em que ele se meteu, é mais fácil apreciá-lo como um ótimo álbum de pop-soul-rhythm'n'blues.

O sucesso do disco transformou Amy Winehouse, aos 23 anos, na estrela pop que Salaam Remi envisionava. Por outro lado, a fama acabou com qualquer possibilidade de uma vida normal. Abalada por um relacionamento familiar instável e o gosto por álcool, drogas e romances com pessoas de índole duvidosa, ela simplesmente não conseguiu segurar a onda.

Quem viu o documentário "Amy" percebeu que a moça não tinha a menor estrutura psicológica para lidar com a fama e as exigências de uma vida de popstar. Para piorar, o pai era um aproveitador e o noivo, um mercenário. Menos de cinco anos depois do lançamento de "Back in Black", e sem ter conseguido gravar mais nenhum disco, Amy morreu de envenenamento por álcool, aos 27 anos.

Trailer legendado do documentário "Amy"

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Na época, não dei muita atenção ao trabalho de Amy Winehouse. Fui um dos muitos que logo se encheu daquele papo de perseguição de tabloides e desconfiava que aquilo era um tanto incentivado pela família e pela gravadora (o que foi confirmado pelo documentário "Amy", que mostra como o pai, Mitch, explorou ao máximo a fama da filha). Quando a cantora se apresentou no Brasil, em janeiro de 2011, o show foi um dos piores que já vi (leia aqui um texto que fiz para a "Folha").

Hoje, cinco anos depois da morte de Amy Winehouse e dez anos depois de "Back to Black", o que resta é a música, e ela continua muito boa. E para quem não viu, "Amy" está disponível no Netflix.

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Sobre o autor

André Barcinski é jornalista, roteirista e diretor de TV. É crítico de cinema e música da “Folha de S. Paulo”. Escreveu sete livros, incluindo “Barulho” (1992), vencedor do prêmio Jabuti de melhor reportagem. Roteirizou a série de TV “Zé do Caixão” (2015), do canal Space, e dirigiu o documentário “Maldito” (2001), sobre o cineasta José Mojica Marins, vencedor do Prêmio do Júri do Festival de Sundance (EUA). Em 2019, dirigiu a série documental “História Secreta do Pop Brasileiro”.

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Música, cinema, livros, TV, e tudo que compõe o universo da cultura pop estará no blog, atualizado às terças-feiras.