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Como Pixies e Sonic Youth ajudaram a tirar o rock do “gueto” indie

André Barcinski

12/11/2018 06h50

Pixies em 1988

Dois álbuns clássicos do indie rock fizeram 30 anos: "Daydream Nation", do Sonic Youth, e "Surfer Rosa", do Pixies.

Lançados em 1988, os dois discos, cada qual à sua maneira, traziam elementos que resumiam o rock alternativo da época e apontavam caminhos para a popularização da cena alternativa, o que aconteceria com força três anos depois, com o lançamento de "Nevermind", do Nirvana.

Basicamente, são discos que anunciavam o fim de uma era de ortodoxia da cena indie e o início de um período em que bandas buscavam públicos mais amplos e sonoridades mais ecléticas.

"Daydream Nation" foi o quinto álbum do Sonic Youth. Apesar de trazer elementos do noise rock da banda, era um disco muito mais palatável e "comercial" do que os primeiros lançamentos do grupo.

"Surfer Rosa" foi o LP de estreia do Pixies. Produzido pelo iconoclasta Steve Albini, o disco misturava letras estranhas sobre mutilação e insanidade a um som que, se não era exatamente pop, não estava muito longe disso.

Nenhum dos dois discos fez grande sucesso comercial, mas os dois abriram as portas da indústria musical para um tipo de som até então restrito a rádios universitárias e revistas especializadas na cena alternativa.

Depois de "Daydream Nation" e "Surfer Rosa", a grande mídia passou a acompanhar mais de perto os lançamentos de rock alternativo, e as gravadoras "majors" passaram a ver aquela cena com outros olhos.

Quando o Sonic Youth saiu do selo Enigma, que havia lançado "Daydream Nation", e assinou com uma grande gravadora, a Geffen, foi uma espécie de carta branca para que outras bandas alternativas parassem de ver as "majors" como inimigas.

"Daydream Nation" e "Surfer Rosa" foram discos tão importantes na cena alternativa que foram citados como grandes influências pelo artista mais popular dos anos seguintes, Kurt Cobain. Foi ele que disse que estava tentando copiar os Pixies ao escrever "Smells Like Teen Spirit", e que decidiu assinar com a Geffen porque o Sonic Youth havia feito o mesmo.

Se essa guinada mais popular do indie rock foi benéfica para a cena alternativa, é motivo de discussão. Muitas bandas que tocavam para públicos restritos puderam expandir seu fã-clube. Por outro lado, o leilão de bandas que aconteceu entre 1990 e 1993, quando as grandes gravadoras investiram pesado no indie rock, prejudicou muitos selos menores e independentes, que não tiveram condição de competir. Essa lua de mel entre bandas alternativas e a indústria musical durou até mais ou menos 1994, e morreu logo depois de Kurt Cobain.

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Sobre o autor

André Barcinski é jornalista, roteirista e diretor de TV. É crítico de cinema e música da “Folha de S. Paulo”. Escreveu sete livros, incluindo “Barulho” (1992), vencedor do prêmio Jabuti de melhor reportagem. Roteirizou a série de TV “Zé do Caixão” (2015), do canal Space, e dirigiu o documentário “Maldito” (2001), sobre o cineasta José Mojica Marins, vencedor do Prêmio do Júri do Festival de Sundance (EUA). Em 2019, dirigiu a série documental “História Secreta do Pop Brasileiro”.

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