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Philip Roth: por onde começar a ler?

André Barcinski

24/05/2018 05h59


O escritor norte-americano Philip Roth morreu dia 22, aos 85 anos. Autor de cerca de 30 romances, além de dezenas de contos, ensaios e textos de não-ficção, Roth era um dos maiores nomes da literatura contemporânea e ganhou alguns dos principais prêmios literários do mundo. Morreu sem ganhar o Nobel, o que é uma vergonha para o Nobel.

Meu colega João Pereira Coutinho, da "Folha de S. Paulo", fez uma análise da obra e legado de Roth (leia aqui).

Dois anos atrás, escrevi aqui no blog sobre o presente que Roth deu à Biblioteca Pública de Neward, cidade natal do escritor, doando quatro mil volumes de sua biblioteca particular (leia aqui).

Acho que a melhor maneira de homenagear Philip Roth é conseguir mais leitores para a sua obra. Alguns de meus livros favoritos do autor são "Complexo de Portnoy" (1969), "O Teatro de Sabbath" (1995) e "Pastoral Americana" (1997), mas não indicaria nenhum deles para alguém que nunca leu o autor e quer começar. Os três que eu escolheria para uma introdução à obra de Philip Roth seriam:

A Marca Humana (2000) – O título original desse livro é "The Human Stain", que eu traduziria por "A Mancha Humana". "Mancha" é mais forte que "Marca", e resume um dos temas principais da obra de Roth, que é a falibilidade do ser humano. Os livros do autor frequentemente tratam de personagens neuróticos e obsessivos, que tentam esconder, sem sucesso, seus defeitos (ou "manchas"). Nesse livro, Roth conta a história de um admirado professor universitário cuja carreira é destruída depois que uma frase dita em sala de aula é considerada racista. Na minha opinião, um dos melhores trabalhos de Roth.

Complô Contra a América (2004) – Uma obra atípica de Roth (lembra Vonnegut ou Orwell), em que ele cria uma "verdade alternativa" para contar o que teria acontecido se Charles Lindbergh, o famoso aviador americano, pró-Alemanha e antissemita, tivesse vencido a eleição para presidente dos Estados Unidos em 1940. É um emocionante e inventivo "thriller" político.

Indignação (2008) – Antepenúltimo romance de Roth, conta a história de um estudante judeu, Marcus Messner, e suas aventuras numa pequena universidade no início dos anos 50. O personagem lembra bastante o Holden Caulfield de "O Apanhador no Campo de Centeio", de J. D. Salinger (será coincidência que o reitor da escola se chama Hawes Caudwell?). Um livro carregado com o típico humor negro de Philip Roth.

O canal Curta! exibe hoje, às 21h, e no domingo, à 0h20, o documentário francês "Encontro com Philip Roth: Biografia de uma obra".

Um ótimo fim de semana a todos.

Visite meu site: andrebarcinski.com.br

Sobre o autor

André Barcinski é jornalista, roteirista e diretor de TV. É crítico de cinema e música da “Folha de S. Paulo”. Escreveu sete livros, incluindo “Barulho” (1992), vencedor do prêmio Jabuti de melhor reportagem. Roteirizou a série de TV “Zé do Caixão” (2015), do canal Space, e dirigiu o documentário “Maldito” (2001), sobre o cineasta José Mojica Marins, vencedor do Prêmio do Júri do Festival de Sundance (EUA). Em 2019, dirigiu a série documental “História Secreta do Pop Brasileiro”.

Sobre o blog

Música, cinema, livros, TV, e tudo que compõe o universo da cultura pop estará no blog, atualizado às terças-feiras.