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Ah, Miranda, você não, velhinho!

André Barcinski

23/03/2018 00h31


Estava no show do National no Circo Voador, no Rio, quando meu celular começou a tocar: "Miranda morreu!". Fui embora no meio da primeira música.

Músico, jornalista, produtor, executivo de gravadora, olheiro de artistas, descobridor de talentos, jurado de TV, Carlos Eduardo Miranda é um dos nomes mais importantes da música pop brasileira dos últimos 30 anos. Onde quer que você olhe, do underground mais ortodoxo aos sons mais comerciais, ele deixou sua marca por todos os cantos.

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Que sujeito querido era o Miranda: em quase 30 anos cobrindo a cena musical, nunca ouvi UMA pessoa falando mal dele. Pelo contrário: quando alguém se referia a ele, era sempre pra contar como ajudou determinada banda ou recomendou algum som novo que estava ouvindo.

Também estou pra ver alguém mais engraçado. Miranda tinha um dom absurdo para transformar histórias que soariam banais se contadas por qualquer um de nós, em verdadeiras epopeias. Era um frasista absurdamente sintético e inteligente, cheio de tiradas hilariantes e comentários certeiros. Era divertido conversar sobre qualquer coisa com ele.

Por motivos mais geográficos do que de afinidade, nunca fomos muito próximos. Passávamos longos períodos sem nos encontrar, mas os encontros eram sempre especiais. Miranda era o tipo de cara que sempre fazia você se sentir amigo e querido. Mesmo com aquele visual de ogro e aquele jeitão de gaúcho toscão, ele passava uma sensação boa de afeto e carinho.

Nos próximos dias, veremos uma enxurrada de depoimentos de amigos, músicos, jornalistas e fãs sobre esse cara gente fina, que amava música e adorava falar da filhinha. Todo mundo vai ter uma história mais engraçada que a outra pra contar. E podem acreditar: é tudo verdade.

E cada vez que surge do nada uma notícia como essa, em que uma pessoa querida se vai subitamente, mais tenho certeza de que é preciso aproveitar cada segundo da vida e das pessoas amadas. Isso é o que importa.

À família e amigos do Miranda, desejo tudo de bom. Fiquem com as lembranças desse cara especial, tão querido por tanta gente.

Sobre o autor

André Barcinski é jornalista, roteirista e diretor de TV. É crítico de cinema e música da “Folha de S. Paulo”. Escreveu sete livros, incluindo “Barulho” (1992), vencedor do prêmio Jabuti de melhor reportagem. Roteirizou a série de TV “Zé do Caixão” (2015), do canal Space, e dirigiu o documentário “Maldito” (2001), sobre o cineasta José Mojica Marins, vencedor do Prêmio do Júri do Festival de Sundance (EUA). Em 2019, dirigiu a série documental “História Secreta do Pop Brasileiro”.

Sobre o blog

Música, cinema, livros, TV, e tudo que compõe o universo da cultura pop estará no blog, atualizado às terças-feiras.