“Três Anúncios para um Crime”: então isso é um dos favoritos ao Oscar?
Não é novidade que o Oscar e o Globo de Ouro deixaram de ser referência de qualidade de filmes, mas "Três Anúncios para um Crime" parece ter estabelecido um novo patamar de celebração da mediocridade.
Claro que muitos filmes ruins já levaram o Oscar, e cineastas lendários – Chaplin, Kubrick, Welles – morreram sem receber o prêmio de melhor diretor. Mas não lembro um caso em que um filme tão comum tenha merecido tantas honrarias.
"Três Anúncios para um Crime" foi indicado a sete Oscar (melhor filme, roteiro original, atriz, dois atores coadjuvantes, edição e trilha sonora original), ganhou quatro Globos de Ouro (filme, atriz, ator coadjuvante e roteiro) e um prêmio especial do Screen Actors Guild (sindicato dos atores) pelo conjunto do trabalho do elenco, além de vários prêmios de associações de críticos.
Para um filme tão elogiado por direção, roteiro e atuações, é meio chocante assistir à bagaça e constatar que atores excelentes como Frances McDormand, Woody Harrelson e Sam Rockwell ganharam de presente personagens tão banais.
O filme é um drama sobre uma mãe (McDormand) que, transtornada com a ineficiência da polícia em descobrir o assassino de sua filha, põe mensagens em três placas publicitárias na entrada da pequena cidade onde mora, cobrando eficiência do xerife local (Harrelson). Um assistente do xerife (Rockwell) passa a perseguir a mulher, que começa a ser pressionada pelos moradores a abandonar a ideia das placas.
Não vou contar detalhes para não estragar a surpresa, mas existe uma razão IMENSA (e digna de novela mexicana) para os moradores terem simpatia pelo xerife. A mãe vira a ovelha negra da comunidade, é escorraçada por vizinhos e pelo padre da igreja local. Até o dentista da cidade tenta extrair um molar da coitada – e sem anestesia!
Mas a personagem de Frances McDormand não vai se curvar a ninguém. Ela é uma espécie de versão feminina e light de Charles Bronson em "Desejo de Matar", e ataca o dentista com uma broca, chuta adolescentes nas partes íntimas, e tem surtos piromaníacos e terroristas (e antes que alguém venha reclamar de "spoilers", informo que todas essas cenas incríveis estão no trailer do filme, acima).
O roteiro é uma desgraça absoluta. O filme não tem drama, não tem surpresa e não tem suspense. Há passagens tão inverossímeis e preguiçosamente escritas, que o espectador pode se perguntar se não está vendo uma comédia. Numa delas, um policial joga um cidadão pela janela do segundo andar de um prédio, dá um murro na cara de uma mulher que testemunha a barbaridade, e não é sequer admoestado por seu superior, que assiste a tudo como se estivesse vendo uma partida de damas. Em outra, um personagem aparece do nada e, sentado na mesa de um bar, casualmente confessa um crime para um amigo, sem saber que o sujeito sentado na mesa ao lado é um policial.
O roteiro, repito, INDICADO AO OSCAR, tem personagens que aparecem e somem de repente da história, Sam Rockwell fazendo um policial apalermado que ouve música no fone de ouvido durante o serviço e não percebe um incêndio que ameaça destruir o prédio, e a antológica aparição de um bichinho fofo que pode representar o espírito da menina morta. Juro.
O final é dos mais anticlimáticos dos últimos tempos. Mas, pensando bem, foi o encerramento perfeito para um filme esquecível e superestimado ao extremo.
Um ótimo fim de semana a todos.
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