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Para salvar o Foo Fighters, Dave Grohl apela a um Midas do pop

André Barcinski

04/09/2017 05h59


Se chegar ao topo das paradas de discos é dureza, mais difícil é permanecer lá por um bom tempo.

Que o diga Dave Grohl, líder do Foo Fighters: por pouco mais de uma década – do disco de estréia, "Foo Fighters" (1995), ao quinto álbum de estúdio, "In Your Honor" (2005) – a banda manteve números de vendas consistentes.

Nos últimos dez anos, no entanto, os números caíram, seguindo a queda geral da indústria do disco. Cada álbum vendeu menos que o anterior, até chegar ao oitavo disco de inéditas, "Sonic Highways" (2014), o de menor vendagem da carreira da banda. "Não vendemos mais discos como antigamente, mas lotamos estádios, porque as pessoas acabam ouvindo as músicas e vão aos shows", disse Grohl em 2015 à revista "Entertainment Weekly".

Quando chegou a hora de gravar o novo disco do grupo, "Concrete and Gold", Grohl apelou a um sujeito que há pelo menos dez anos vem marcando gols de placa nas paradas pop: o norte-americano Greg Kurstin.

Kurstin tem 48 anos, toca piano desde os 5, foi colega de turma do filho de Frank Zappa, estudou com o pianista do grupo de Charles Mingus, e toca uma renca de instrumentos.
Mas a única informação sobre Greg Kurstin que realmente interessa à indústria é essa: os discos que ele produziu venderam, somados, cerca de 60 milhões de cópias.

Kurstin co-escreveu, produziu – e, em muitos casos, tocou quase todos os instrumentos – em sucessos como "Hello", de Adele, "Blow Me (One Last Kiss)", de Pink, e "Stronger", de Kelly Clarkson, além de produzir álbuns de Dido, Kesha, Foster the People, Sia e Elle Goulding, entre muitos outros artistas de sucesso.

Kurstin recebendo um dos trocentos Grammys vencidos por Adele

Grohl diz que começou a se interessar pelo trabalho de Kurstin depois de ouvir a faixa "Again and Again", do projeto The Bird and the Bee, que Kurstin tem com a cantora Inara George. De fato, a música é um chiclete: toquei no carro uma vez e meus filhos só querem ouvir a maldita (a guitarra fuzz em cima de uma base que remete a música infantil me lembrou "Minha Menina", dos Mutantes). Ouça:

Grohl explicou, em entrevista à revista "Rolling Stone", a decisão de convidar Kurstin – que nunca trabalhou com rock pesado – para produzir o novo do Foo Fighters:

"Amo The Bird and the Bee por causa do senso de melodia, harmonia, arranjo e composição (…) eu sei como fazer as partes pesadas do disco, mas se Greg conseguisse fazer essa coisa do The Bird and the Bee por cima de nossos riffs pesados, então eu conseguiria fazer o álbum que sempre quis, porque a verdade é que amo rádio pop dos anos 70 e, ao mesmo tempo, amo o Motorhead."

Dave Grohl não é bobo: sabe que o Foo Fighters chegou àquele ponto em que precisa dar uma guinada na carreira e expandir sua base de fãs, ou vira nostalgia. O novo disco da banda, "Concrete and Gold", chega às lojas em 15 de setembro, e estou bem curioso para ouvir o resultado. Nem tanto pela música, que não me empolga, mas para saber se um bom produtor pop é capaz de funcionar num disco de rock pesado.

Sobre o autor

André Barcinski é jornalista, roteirista e diretor de TV. É crítico de cinema e música da “Folha de S. Paulo”. Escreveu sete livros, incluindo “Barulho” (1992), vencedor do prêmio Jabuti de melhor reportagem. Roteirizou a série de TV “Zé do Caixão” (2015), do canal Space, e dirigiu o documentário “Maldito” (2001), sobre o cineasta José Mojica Marins, vencedor do Prêmio do Júri do Festival de Sundance (EUA). Em 2019, dirigiu a série documental “História Secreta do Pop Brasileiro”.

Sobre o blog

Música, cinema, livros, TV, e tudo que compõe o universo da cultura pop estará no blog, atualizado às terças-feiras.