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Def Leppard: quando o heavy metal virou pop

André Barcinski

28/07/2017 05h59

Dia 3 de agosto é aniversário de 30 anos do álbum "Hysteria", do Def Leppard. É um disco muito importante porque marcou um período de popularização mundial do metal.

Na metade dos anos 1980, o rótulo "heavy metal" era muito amplo. Não havia tantas divisões e subgêneros. Bandas tão diferentes quanto Judas Priest, Bon Jovi e Motley Crue eram consideradas parte do mesmo estilo.

Na segunda metade da década, algumas bandas lançaram discos que venderam muito e atraíram um público mais amplo. Entre esses discos estavam "Slippery When Wet" (1986), do Bon Jovi, "The Final Countdown" (1986), do Europe, e "Hysteria", do Def Leppard. Surgia o metal de arena, ou metal-pop.

Quando lançou "Hysteria", o Def Leppard já estava buscando uma linha mais comercial para o seu som há algum tempo. Foi o terceiro disco da banda produzido pelo sul-africano Robert "Mutt" Lange, depois de "High 'n' Dry" (1981) e "Pyromania" (1983).

Lange era um gênio de estúdio que havia ajudado o AC/DC a se tornar um fenômeno mundial, com discos que soavam pesados, mas traziam um verniz pop, como "Highway to Hell" (1979) e "Back in Black" (1980). O produtor ajudou a transformar o hard rock básico do Def Leppard em um metal-pop radiofônico que agradava tanto a metaleiros quanto a menininhas adolescentes.

Numa entrevista de 2012 à revista "Guitar World", o guitarrista do Def Leppard, Phil Collen, disse que Lange usou como modelo o álbum "Thriller", de Michael Jackson, em que todas as faixas foram compostas e produzidas para serem "singles" em potencial: "Em 'Thriller' você tinha um artista de Rhythm & Blues fez uma mistura não só com pop, mas com tudo, incluindo o rock, com Eddie Van Halen tocando em 'Beat It'. Esse conceito realmente agradava a Mutt e a nós. Acho que se Mutt não estivesse com a gente o disco soaria mais convencional. Ele realmente nos puxou ao limite."

Lange não dá uma entrevista há décadas e odeia ser fotografado; aqui, uma rara imagem dele, com o AC/DC

Em "Hysteria", Lange usou todo o seu arsenal de "popices": em algumas faixas ("Gods of War", por exemplo), os coros têm mais de cem vozes empilhadas, para dar um ar grandiloqüente; a bateria soa como percussão eletrônica, por causa da bateria eletrônica que Lange convenceu o baterista Rick Allen a usar depois que Allen perdeu um braço num acidente de carro. As guitarras foram quase todas tocadas num Rockman, um amplificador de fones de ouvido criado pelo guitarrista do grupo Boston, Tom Scholz. "A razão é que havia uma grande quantidade de faixas empilhadas, e o som era tão imenso que, se tivéssemos usado um Marshall, as guitarras teriam esmagado os vocais e a bateria", disse Collen.

"Hysteria" levou três anos para ser gravado e custou uma fortuna. Foi o disco mais caro gravado na Inglaterra até então. Tão caro que, só para empatar a verba gasta na produção, teria de vender 5 milhões de cópias. Vendeu 25 milhões.

Um ótimo fim de semana a todos.

Sobre o autor

André Barcinski é jornalista, roteirista e diretor de TV. É crítico de cinema e música da “Folha de S. Paulo”. Escreveu sete livros, incluindo “Barulho” (1992), vencedor do prêmio Jabuti de melhor reportagem. Roteirizou a série de TV “Zé do Caixão” (2015), do canal Space, e dirigiu o documentário “Maldito” (2001), sobre o cineasta José Mojica Marins, vencedor do Prêmio do Júri do Festival de Sundance (EUA). Em 2019, dirigiu a série documental “História Secreta do Pop Brasileiro”.

Sobre o blog

Música, cinema, livros, TV, e tudo que compõe o universo da cultura pop estará no blog, atualizado às terças-feiras.