“La La Land”: os críticos devem estar loucos
O musical "La La Land" bateu o recorde de vitórias no Globo de Ouro – sete – e é favorito ao Oscar de melhor filme. Quem lê as críticas da imprensa estrangeira acha que o filme já ganhou lugar no panteão dos clássicos do cinema: é um tal de "exuberante" pra cá, "revolucionário" pra lá e "extraordinário" acolá, que alguns podem querer colocá-lo no patamar de musicais de Bob Fosse ou Vincente Minnelli.
Muita calma nessa hora.
"La La Land" surpreende por ressuscitar um gênero em desuso e de pouco apelo a plateias contemporâneas. É um filme muito acima da média, e dirigido com talento. E só.
O diretor, Damien Chazelle ("Whiplash") tem o mérito de dar uma roupagem moderna a uma história antiquada: aspirante a atriz (Emma Stone) tenta a sorte em Hollywood e se apaixona por um pianista (Ryan Gosling), um tradicionalista ferrenho que cultua o jazz antigo e sonha em montar um clube para "não deixar o jazz morrer".
A exemplo de quase todos os musicais, a história em "La La Land" importa menos que a ambientação e a atmosfera. Musicais triunfam ou fracassam dependendo da qualidade de seus números musicais e de seu poder de transportar o espectador a um mundo de fantasia.
E até que o número de abertura de "La La Land" promete: no meio de um engarrafamento em uma freeway de Los Angeles, dezenas de pessoas abandonam seus carros para dançar e cantar. É um plano-sequência de mais de cinco minutos, um prodígio de técnica e coreografia. E o melhor: não tem Emma Stone e Ryan Gosling dançando.
Infelizmente, o mesmo não se pode dizer dos outros números musicais do filme, que sofrem com a técnica simplória e sem brilho dos dois. Nenhuma outra sequência musical é tão bonita e cativante quanto a de abertura, e o filme vai, pouco a pouco, murchando, até sobrar apenas uma história boba, piorada por atuações razoáveis dos atores principais e sofríveis dos coadjuvantes, em especial do músico John Legend.
Os números musicais de "La La Land" são, quase todos, inspirados em musicais do passado. A "Slate" fez uma boa matéria sobre isso (leia aqui), mas esqueceu uma das citações mais óbvias: a de "Les Demoiselles de Rochefort" (no Brasil, "Duas Garotas Românticas"), musical francês de 1967 dirigido por Jacques Demy, cuja cena de abertura foi devidamente surrupiada por Damien Chazelle para a tal sequência da freeway. Veja:
Como explicar as críticas gloriosas ao filme? Acho que "La La Land" se beneficia por ser uma novidade, um filme moderno que presta tributo à época de ouro dos musicais. Por ser diferente e mais ousado do que a grande maioria dos filmes contemporâneos, mereceu a mesma condescendência crítica de outro filme bom alçado à condição de clássico, "O Artista", uma homenagem ao cinema mudo que em 2011 ganhou cinco Oscar, incluindo melhor filme.
Enfim, "La La Land" merece ser visto. É uma boa diversão, um filme alegre e bonito, ideal para ser visto numa tela grande. Só não é o clássico que estão falando por aí.
Um ótimo fim de semana a todos.
P.S.: Estarei sem acesso à Internet até o início da noite e, portanto, sem condições de moderar os comentários. Se o seu comentário demorar a ser publicado, peço desculpas e um pouco de paciência.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.