Quer fazer sucesso na música? Aprenda com Bruce Springsteen...
Que os fãs de Bruce Springsteen não me xinguem, mas sua autobiografia, "Born to Run", recentemente lançada no exterior, é um excelente e inspirador livro de autoajuda.
O volume traz dezenas de casos interessantes sobre a vida de Springsteen e análises pessoais sobre a criação de suas canções mais importantes. Mas o que fica, pelo menos para mim, é a descrição comovente de sua batalha para vencer na música.
O mundo de Bruce Springsteen não tinha Leis Rouanets, papais ricos, shows pagos por prefeituras ou editais de dinheiro público. O que havia eram milhares de horas tocando para três pessoas em botecos vagabundos, viagens de mil quilômetros em meio a nevascas para se apresentar em algum muquifo, meses de espera por respostas de gravadoras, e a certeza de que, um dia, como escreve o próprio Bruce, "eu iria fazer música e alguém iria querer ouvi-la".
Em 1975, quando estourou com "Born to Run", o cantor tinha 26 anos e já havia reinventado a carreira algumas vezes. Filho de uma dona de casa e um pai bêbado, ausente e craque de sinuca ("um autêntico Bukowski"), ele cresceu em Freehold, uma pequena cidade proletária de New Jersey.
Aos 15 anos, já tocava em bandas como The Castiles. Aos 19, vivia de música, tocando no grupo Steel Mill, sensação local. A banda fazia um rock pesado e atraía públicos de duas ou três mil pessoas, mas Bruce não estava satisfeito. Ele queria ter sua própria banda e fazer seu próprio som.
Assim, largou o Steel Mill e o que parecia ser uma carreira segura, montou sua primeira banda solo e voltou a tocar para botecos vazios.
"Procuramos o bar mais vazio de Asbury Park e fizemos uma proposta ao dono: você não nos paga um centavo. Nós cobramos um dólar na porta, tocamos o que queremos, e ficamos com o dinheiro da entrada (…) Na primeira noite, tocamos para 15 pessoas. Cinco shows de 50 minutos por 10 de descanso, de 9 da noite às 3 da manhã. Saímos de lá com 15 dólares, 3 dólares para cada um da banda (…) Na semana seguinte, atraímos 30 pessoas. Na seguinte, 80, depois 100, depois 125. Logo estávamos tocando toda quarta, sexta e sábado. Havíamos encontrado um pequeno séquito de fãs que começaram a gravitar em torno de nós."
Quando a grana apertava, Bruce pegava a guitarra e percorria os bares de Asbury Park, ganhando 10 dólares para tocar a noite toda com bandas locais. Gostava tanto de tocar com desconhecidos que continuou fazendo isso mesmo depois de rico e famoso. Numa passagem emocionante, ele e o saxofonista da E Street Band, Clarence Clemons, dão uma canja no bar de um amigo de Clarence para atrair alguns clientes ao local, que vivia às moscas.
O primeiro terço do livro vai da história da família de Springsteen – uma mistura de italianos e irlandeses – ao início de sua carreira solo, e é sensacional. Depois que Bruce grava seus primeiros discos e começa a fazer sucesso, o livro, pelo menos para mim, perdeu um pouco do interesse e da surpresa, embora traga muitas histórias curiosas – incluindo uma festinha na companhia de Frank Sinatra e Bob Dylan – e informações reveladoras sobre discos, turnês e músicos como Steve Van Zandt, Nils Lofgren e Clarence Clemons.
De vez em quando, o leitor encontra algumas passagens especialmente inspiradas, em que Bruce abandona a simples descrição de fatos e escreve passagens reveladoras sobre sua vida e sua arte. Veja essa:
"Meus discos são sempre o som de alguém tentando entender onde estão sua alma e seu coração. Eu imagino uma vida, passo a vivê-la, e vejo se ela me serve. Eu ando nos sapatos de alguém por um tempo, pelas estradas ensolaradas e escuras que me atraem, mas nas quais eu posso não querer viver para sempre. Sempre com um pé na luz e outro na escuridão, em busca do dia seguinte."
E essa:
"Ninguém vai a shows de rock para aprender algo. As pessoas vão para se lembrarem de algo que elas já sabem e sentem no fundo de suas almas."
O livro também tem passagens engraçadas, onde Bruce reflete sobre sua carreira e ri de alguns exageros estilísticos. Sobre seu visual na época de "Born in the USA", diz:
"Os anos oitenta reinavam! (…) olhando para a minha hoje icônica bandana, camisetas sem manga e músculos protuberantes, vendo aquelas fotos hoje, eu pareço simplesmente… gay!"
Espero que o livro saia logo por aqui.
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