"Back to Black": o epitáfio de Amy Winehouse faz 10 anos
Há dez anos – em 27 de outubro de 2006 – Amy Winehouse lançava seu segundo álbum, "Back to Black". Foi um imenso sucesso de crítica e o segundo disco mais vendido dos anos 2000 no Reino Unido, atrás apenas de "21", de Adele.
O disco também foi responsável pelo surgimento de cantoras como Duffy e a própria Adele. Depois do estouro de "Back to Black", toda gravadora partiu em busca de uma nova Amy Winehouse.
Além de um ótimo trabalho de soul e rhythm'n'blues, "Back to Black" é prova da inteligência e tino comercial dos produtores Salaam Remi e Mark Ronson.
Remi havia produzido "Frank" (2003), disco de estreia da cantora, um trabalho bem mais jazzístico, mas via em Amy uma artista de grande potencial comercial. Quando chegou a hora de fazer outro disco, ele levou a cabo o plano de transformar Amy em uma diva pop. Para isso, contou com a ajuda de Ronson, um DJ, produtor e apresentador de rádio que circulava bem pelos círculos do rap, rock e pop (seu primeiro disco solo, "Here Come the Fuzz", de 2003, teve participações de Jack White, Mos Def e Nikka Costa, entre outros).
Remi e Ronson praticamente criaram uma nova identidade para Amy Winehouse, adicionando à sua música outros elementos, como o soul da Motown e o clima festivo e dançante das "girl groups" dos anos 60 (Ronettes, Supremes, etc.).
O grande mérito de "Back to Black" foi criar canções de qualidade e apelo comercial. O disco tinha um som muito bem feito e com ótimas influências, e podia ser ouvido tanto em rádios pop quanto em emissoras de som mais "sofisticado". Críticos adoraram, e o público também.
Claro que o fato de Amy cantar sobre sua personalidade polêmica e seus vícios (como em "Rehab"), aumentou ainda mais o interesse pelo disco, mas é impossível negar sua qualidade. Ouvindo "Back to Black" hoje, sem a comoção midiática em torno da cantora e dos muitos escândalos em que ele se meteu, é mais fácil apreciá-lo como um ótimo álbum de pop-soul-rhythm'n'blues.
O sucesso do disco transformou Amy Winehouse, aos 23 anos, na estrela pop que Salaam Remi envisionava. Por outro lado, a fama acabou com qualquer possibilidade de uma vida normal. Abalada por um relacionamento familiar instável e o gosto por álcool, drogas e romances com pessoas de índole duvidosa, ela simplesmente não conseguiu segurar a onda.
Quem viu o documentário "Amy" percebeu que a moça não tinha a menor estrutura psicológica para lidar com a fama e as exigências de uma vida de popstar. Para piorar, o pai era um aproveitador e o noivo, um mercenário. Menos de cinco anos depois do lançamento de "Back in Black", e sem ter conseguido gravar mais nenhum disco, Amy morreu de envenenamento por álcool, aos 27 anos.
Na época, não dei muita atenção ao trabalho de Amy Winehouse. Fui um dos muitos que logo se encheu daquele papo de perseguição de tabloides e desconfiava que aquilo era um tanto incentivado pela família e pela gravadora (o que foi confirmado pelo documentário "Amy", que mostra como o pai, Mitch, explorou ao máximo a fama da filha). Quando a cantora se apresentou no Brasil, em janeiro de 2011, o show foi um dos piores que já vi (leia aqui um texto que fiz para a "Folha").
Hoje, cinco anos depois da morte de Amy Winehouse e dez anos depois de "Back to Black", o que resta é a música, e ela continua muito boa. E para quem não viu, "Amy" está disponível no Netflix.
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