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“Meru”: a obsessão de um alpinista por um dos picos mais difíceis do mundo

André Barcinski

23/11/2018 05h59

Se você gosta de grandes histórias sobre esportistas desafiando a natureza, não deixe de ver "Meru", na Netflix. É um dos grandes documentários de aventura dos últimos tempos.

"Meru" conta a história do alpinista estadunidense Conrad Anker e sua obsessão em conquistar a "Barbatana de Tubarão", como é conhecido o paredão de pedra que leva ao pico central da montanha Meru, no norte da Índia.

O Meru está longe de ser uma das montanhas mais altas do mundo – tem 6600 metros, enquanto existem 14 picos com mais de 8 mil metros – mas é uma das mais difíceis de escalar.

A montanha tem três picos. O central é o mais baixo (6310 metros), mas o de maior dificuldade para escaladores. O trecho final termina numa parede lisa de 500 metros de altura, um dos maiores desafios do alpinismo no mundo.

Desde 1986, quando o lendário montanhista Terry "Mugs" Stump fez a primeira tentativa de atingir o pico central pela "Barbatana do Tubarão", o Meru nunca fora conquistado por essa rota.

Stump era o mentor de Conrad Anker e morreu em 1992, ao cair durante uma escalada ao pico Denali, nos Estados Unidos. Anker prometeu que conquistaria o Meru em homenagem a Stump.

Anker é outra lenda do alpinismo. Em 1999, participou de uma expedição para encontrar os restos mortais de George Mallory, o alpinista inglês que morrera em 1924 ao escalar o Everest. Foi Anker que encontrou, 75 anos depois, o corpo de Mallory, preservado pelo gelo.

Veja aqui um trecho de um documentário da BBC que mostra o instante em que Anker encontra um corpo no gelo. E tente não chorar, a 5:06, quando a equipe encontra uma etiqueta com a identificação do morto: "Meu Deus! É George Mallory!"

"Meru" acompanha Anker em duas tentativas de subir a "Barbatana do Tubarão". Em 2008, ele e os parceiros Jimmy Chin e Renan Ozturk fizeram a primeira incursão, mas desistiram a menos de 150 metros do cume.

Na segunda… Bom, veja o filme, que não vou estragar a surpresa.

"Meru" tem algumas das cenas de alpinismo mais impressionantes que já vi. Filmadas por Chin e Ozturk, dois grandes cinegrafistas de montanhas, o filme traz imagens que parecem feitas em computador, de tão absurdas.

Há uma sequência mostrando uma avalanche, que tive de rever quatro ou cinco vezes para acreditar. Nem em filme hollywodiano há nada parecido. E as histórias pessoais de Anker, Chin e Ozturk também são coisa de cinema.

Um ótimo fim de semana a todos.

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Sobre o autor

André Barcinski é jornalista, roteirista e diretor de TV. É crítico de cinema e música da “Folha de S. Paulo”. Escreveu sete livros, incluindo “Barulho” (1992), vencedor do prêmio Jabuti de melhor reportagem. Roteirizou a série de TV “Zé do Caixão” (2015), do canal Space, e dirigiu o documentário “Maldito” (2001), sobre o cineasta José Mojica Marins, vencedor do Prêmio do Júri do Festival de Sundance (EUA). Em 2019, dirigiu a série documental “História Secreta do Pop Brasileiro”.

Sobre o blog

Música, cinema, livros, TV, e tudo que compõe o universo da cultura pop estará no blog, atualizado às terças-feiras.