Topo

Teddy Pendergrass: tragédia e triunfo do "Elvis negro"

André Barcinski

13/04/2018 05h59


Excelente notícia: a BBC está produzindo um documentário sobre o cantor de soul Teddy Pendergrass (1950-2010). Se o filme conseguir captar uma fração do drama e superação que marcaram a vida do artista, será imperdível.

Hoje nem todo mundo lembra, mas houve um período, lá pelo fim dos anos 70, em que Pendergrass era um dos maiores sex symbols do pop. Seus discos vendiam muito, as rádios não cansavam de tocar suas baladas de forte apelo erótico, como "Close the Door" ("Feche a Porta") e "Turn Off the Lights" ("Apague as Luzes"), e as mulheres literalmente se jogavam a seus pés nos shows.

O assédio feminino era tanto que o agente de Teddy, o espertíssimo Shep Gordon, passou a promover turnês em que só eram vendidos ingressos para mulheres. Veja o cantor em 1982, causando um orgasmo coletivo com "Turn Off the Lights": "Vamos tomar um chuveiro juntos / eu lavo seu corpo e você lava o meu":

Até esse ano, 1982, a fama de Teddy Pendegrass só havia crescido. Ele surgira na cena musical em 1970, quando ganhou o emprego de baterista do grupo soul Harold Melvin & the Blue Notes, um dos maiores nomes do Philadelphia International, selo pioneiro da disco music liderado pelos compositores e empresários Kenneth Gamble e Leon Huff.

Durante um ensaio de Harold Melvin & the Blue Notes, Huff ouviu Teddy cantar alguns versos e promoveu-o a vocalista do grupo. "Ele estava apenas brincando no estúdio", disse Huff ao "New York Times", "Quando aquela voz rica de barítono atingiu meus ouvidos".

Pendergrass saiu da banda em 1975 e iniciou uma carreira solo, que decolou imediatamente. Seus primeiros cinco discos foram sucessos de venda: "Teddy Pendergrass" (1977), "Life is as Song Worth Singing" (1978), Teddy (1979), "TP" (1980) e "It´s Time for Love" (1981). Foi nessa época que Kenneth Gamble, dono da gravadora, apelidou Pendergrass de "Elvis negro", não só por seu imenso sucesso comercial, mas pelo fato de sua música apelar a fãs de todas as raças e idades (e antes que alguém reclame: Gamble, o inventor do apelido, é negro).

No auge da fama e fortuna, veio a tragédia: em 18 de março de 1982, Pendergrass perdeu o controle de seu Rolls-Royce numa área rural da Filadélfia e bateu numa árvore. Teddy, aos 31 anos de idade, ficou paraplégico.

Logo após o acidente, a gravadora Philadelphia International, talvez não acreditando que Teddy voltaria a gravar, se apressou em lançar dois discos com sobras de estúdio: "This One's For You" (1982) e "Heaven Only Knows" (1983).

No fim de 1984, depois de mais de dois anos de recuperação, Teddy Pendergrass saiu da Philadelphia International, voltou ao estúdio e gravou o LP "Love Language" pela gravadora Asylum, de David Geffen. Mas sua volta de verdade aconteceu em julho de 1985, durante o Festival Live Aid, quando fez sua primeira aparição pública desde o acidente. Assista e tente não chorar:

Entre 1985 e 1997, Teddy Pendergrass lançou mais cinco álbuns de estúdio e fez shows ocasionais. Chegou a gravar um filme-concerto em 2002, que pode ser visto na íntegra no Youtube. Em 2009, foi diagnosticado com câncer de cólon, e morreu em 13 de janeiro de 2010, aos 59 anos.

Um ótimo fim de semana a todos.

Sobre o autor

André Barcinski é jornalista, roteirista e diretor de TV. É crítico de cinema e música da “Folha de S. Paulo”. Escreveu sete livros, incluindo “Barulho” (1992), vencedor do prêmio Jabuti de melhor reportagem. Roteirizou a série de TV “Zé do Caixão” (2015), do canal Space, e dirigiu o documentário “Maldito” (2001), sobre o cineasta José Mojica Marins, vencedor do Prêmio do Júri do Festival de Sundance (EUA). Em 2019, dirigiu a série documental “História Secreta do Pop Brasileiro”.

Sobre o blog

Música, cinema, livros, TV, e tudo que compõe o universo da cultura pop estará no blog, atualizado às terças-feiras.