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Fred Cole: adeus a um herói "cult" do rock

André Barcinski

11/11/2017 10h59

Fred e Toody: 50 anos de amor e rock'n'roll


Um dos grandes heróis da música independente foi embora. Dia 10 foi anunciada a morte de Fred Cole, que por mais de 50 anos liderou ao menos 15 bandas, sendo a mais famosa delas – ou melhor, a menos desconhecida – a Dead Moon. Cole tinha 69 anos e morreu de um câncer no fígado.

Fred Cole foi um punk muito antes dos punks, um pioneiro que seguiu fanaticamente a filosofia do "faça você mesmo". Nunca vendeu muitos discos, mas teve uma carreira de mais de meio século, influenciou muitas bandas ótimas, lançou dezenas de discos e fez milhares de shows, sempre vivendo à margem da indústria musical.

Junho de 1967: o casório

As gravadoras não queriam lançar os discos de Cole? Sem problema: ele montou seu próprio selo. Estúdios cobravam caro para masterizar álbuns? Danem-se: Cole comprou uma antiga máquina de acetatos dos anos 50 – a mesma onde foi cortado o acetato original do clássico "Louie Louie", do Kingsmen – e passou a masterizar os próprios discos em casa.

O Dead Moon não tinha agente ou roadies. Nas turnês, Fred e sua esposa, Toody, se revezavam dirigindo a van e montavam o equipamento de palco. Depois dos shows, adivinhe quem vendia camisetas e discos da banda? Os anos de estrada e barulho fizeram um estrago em seu corpo: Fred era praticamente surdo, tinha sérios problemas de coluna e fora operado do coração há alguns anos.

BEATLES E JANIS JOPLIN

Fred Cole nasceu em 1948 em Tacoma, no estado de Washington (noroeste dos Estados Unidos), e começou a tocar em bandas aos 16 anos de idade. Viu os Beatles, conheceu Janis Joplin, e abriu shows de The Doors. Em 1966, teve um pequeno sucesso com "It's Your Time", gravado com a banda The Weeds:

No ano seguinte, casou-se com a namorada, Toody. Fred e Toody tiveram três filhos. Fred continuou tocando em várias bandas – Lollipop Shoppe, Zipper, King Bee – até que, no início dos anos 80, ensinou Toody a tocar baixo e formou com ela o grupo punk The Rats. Nunca mais se separaram – em casa e no palco.

Em 1987, montaram o Dead Moon, uma das melhores bandas de rock de garagem, blues-rock e psicodelia de todos os tempos.

Fred construiu, sozinho, a casa da família, em Clackamas, uma área rural no estado de Oregon. Também construiu seu estúdio, uma loja de equipamentos musicais (ele fazia guitarras e baixos para vender) e a sede da gravadora Tombstone, por onde lançou quase todos seus discos (nesse exato instante, tenho à mão o compacto em Mono de "Fire in the Western World" / "Room 213", que comprei em 1992 pelo correio – "Caixa Postal 1463, Clackamas, OR, 97015").

"Fire in the Western World" é uma de minhas canções prediletas. A qualidade desse vídeo não é das melhores, mas a versão é brilhante:

Apesar de nunca ter sido um campeão de vendas, o Dead Moon influenciou muita gente. A turma que fez o "grunge" era fanática: Mudhoney, Screaming Trees e Pearl Jam devem muito a eles; na Europa, a onda nórdica de garage-punk de bandas como Turbonegro, Hellacopters e The Hives também idolatravam Fred e Toody.

Para encerrar, aqui vai o Pearl Jam tocando "It's OK", do Dead Moon…

E a versão do próprio Dead Moon, filmada num dos últimos shows da banda, em 2015:

Um maravilhoso fim de semana a todos. O blog volta terça.

Sobre o autor

André Barcinski é jornalista, roteirista e diretor de TV. É crítico de cinema e música da “Folha de S. Paulo”. Escreveu sete livros, incluindo “Barulho” (1992), vencedor do prêmio Jabuti de melhor reportagem. Roteirizou a série de TV “Zé do Caixão” (2015), do canal Space, e dirigiu o documentário “Maldito” (2001), sobre o cineasta José Mojica Marins, vencedor do Prêmio do Júri do Festival de Sundance (EUA). Em 2019, dirigiu a série documental “História Secreta do Pop Brasileiro”.

Sobre o blog

Música, cinema, livros, TV, e tudo que compõe o universo da cultura pop estará no blog, atualizado às terças-feiras.