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"Spielberg" vale pelas cenas de bastidores

André Barcinski

27/10/2017 05h59

A HBO exibe "Spielberg" (veja dias e horários aqui), documentário de Susan Lacy sobre o cineasta Steven Spielberg.

O filme é um tanto careta no formato, usando a velha fórmula de entrevistas, clipes de filmes e fotos de arquivo. Mas um ingrediente torna o documentário especial, pelo menos para os fãs do diretor: as incríveis cenas de bastidores de filmagem.

Ver Spielberg dirigindo Henry Thomas, então com 11 anos, e Drew Barrymore, com 6, em "E.T" (1982) é sensacional. A maneira como ele interage com as crianças e extrai delas a emoção necessária a cada cena é brilhante. Poucos cineastas hollywoodianos demonstraram tanto talento para dirigir crianças.

Bem diferente – embora com resultados igualmente impressionantes – é o modo detalhista e obsessivo com que dirigiu Liam Neeson em "A Lista de Schindler". Neeson diz que chegou a pensar em desistir do filme no primeiro dia de filmagem depois que Spielberg passou horas dizendo como o ator deveria fumar um cigarro e soltar a fumaça pelo nariz, mas foi convencido pelo colega Ben Kingsley a persistir. "Um grande violinista precisa de um grande maestro", disse Kingsley.

Outras cenas interessantes mostram bastidores da conturbadíssima filmagem de "Tubarão" (1975), que deveriam durar 55 dias, mas chegaram a quase 200, e o trabalho do diretor em "Munique", talvez seu filme mais incompreendido e subvalorizado.

Alguns depoimentos são especialmente interessantes e sinceros, como o do dramaturgo inglês Tom Stoppard, que escreveu o roteiro de "O Império do Sol" e diz que considera o filme "sentimental demais".

Mas ninguém é mais sincero no filme do que o próprio Spielberg, que conta, entre outras coisas, como o divórcio dos pais foi um acontecimento tão traumático na vida da família (a mãe largou o pai para casar com o melhor amigo dele) que inspirou cenas em vários de seus filmes.

Um ótimo fim de semana a todos.

Sobre o autor

André Barcinski é jornalista, roteirista e diretor de TV. É crítico de cinema e música da “Folha de S. Paulo”. Escreveu sete livros, incluindo “Barulho” (1992), vencedor do prêmio Jabuti de melhor reportagem. Roteirizou a série de TV “Zé do Caixão” (2015), do canal Space, e dirigiu o documentário “Maldito” (2001), sobre o cineasta José Mojica Marins, vencedor do Prêmio do Júri do Festival de Sundance (EUA). Em 2019, dirigiu a série documental “História Secreta do Pop Brasileiro”.

Sobre o blog

Música, cinema, livros, TV, e tudo que compõe o universo da cultura pop estará no blog, atualizado às terças-feiras.