"Blade Runner 2049" é uma decepção
"Blade Runner 2049" tinha tudo para ser um filmaço.
Em primeiro lugar, é continuação de "Blade Runner", o clássico que Ridley Scott dirigiu em 1982. A sequência tem Harrison Ford no elenco, foi escrita pelo mesmo roteirista que coescreveu o filme original, Hampton Fancher, fotografada pelo ótimo Roger Deakins ("Fargo", "Um Sonho de Liberdade") e dirigida por Denis Villeneuve, um canadense talentoso que fez "Sicario" (2015) e "A Chegada" (2016).
Infelizmente, Villeneuve não captou o espírito do filme original. "Blade Runner" era um thriller policial neo-noir, só que passado num futuro distópico e baseado – muito vagamente – num romance do escritor de ficção-científica Philip K. Dick. O charme do filme original foi envelopar uma história bonita sobre memória e mortalidade numa embalagem de filme B, com todos os clichês do cinema noir, da femme fatale à fotografia Expressionista, passando por cenários chuvosos e um clima sombrio e melancólico. Era um filme inteligente e ambicioso, mas que também funcionava como simples diversão.
Já o "Blade Runner" de Villeneuve é solene e um tanto auto-indulgente. Para começar, dura intermináveis 163 minutos, 45 a mais que o filme original e pelo menos uma hora a mais do que o necessário para contar uma história tão simples. O resultado é um filme muito bonito, mas tedioso em partes, e com uma trama rala e atrapalhada por uma narrativa pomposa. A música – ribombante, altíssima – tenta compensar a falta de ritmo e emoção da história, sem sucesso.
2049
A trama começa 30 anos depois do filme original. Ryan Gosling faz K, um replicante que trabalha para o Departamento de Policia de Los Angeles exterminando androides de modelos antigos.
Durante uma missão, K encontra a ossada de uma antiga replicante e descobre que ela deu à luz uma criança. Isso ameaça a estrutura social vigente, e K é mandado pela polícia para encontrar e eliminar a criança.
Quem também procura a criança é Niander Wallace (Jared Leto), um magnata fabricante de androides, que manda sua assistente, a sanguinária e linda Luv (Sylvia Hoeks), vigiar os passos de K. A investigação de K acaba por levá-lo atrás de Rick Deckard (Harrison Ford).
Não vou contar mais para não estragar a surpresa, mas a base da história é essa: a busca por uma criança misteriosa.
Villeneuve soterrou essa trama simples numa overdose de significados e divagações, prejudicando o ritmo do filme. Há longas sequências que não contribuem para o desenvolvimento da trama e parecem estar ali pela única razão de serem visualmente impactantes. Alguns personagens são potencialmente interessantes, mas somem de repente da história (a impressão é de que o filme tinha umas quatro horas de duração e Villeneuve precisou cortar partes inteiras para chegar a um tamanho aceitável.
Algumas cenas são muito bonitas (um "ménage" virtual envolvendo K e duas moças é especialmente forte), mas o ritmo arrastado do filme faz o espectador torcer por menos visual e mais ação.
Enfim, "Blade Runner 2049" funciona como um tributo ao filme original, mas tem um roteiro pesado, que arrasta o filme. Os personagens são muito menos interessantes e memoráveis do que os do original. Mas seu grande problema é mesmo a solenidade.
Um ótimo feriado a todos. O blog volta segunda, dia 16.
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