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The War on Drugs: mais um disco fora de série

André Barcinski

22/09/2017 05h59


Adam Granduciel e seu The War on Drugs voltam com o terceiro excelente álbum em seis anos: "A Deeper Understanding". O disco expande o som cósmico, estradeiro e viajandão que Granduciel vem criando desde "Slave Ambient" (2011) e "Lost in the Dream" (2014).

O som do WOD remete a muitas influências: em algumas partes parece uma releitura psicodélica do pop radiofônico dos anos 70 (imagine "Born to Run", de Bruce Springsteen, tocado por fãs do Grateful Dead). O som tem a mesma clareza e brilho de gravações de bandas como Eagles, Chicago e Boston, mas com uma pegada menos comercial e mais lisérgica. É um som de highway, de ouvir a 100 por hora, zunindo com as janelas abertas por uma estrada bonita.

Veja The War on Drugs tocando "Holding On", faixa do novo disco, nos estúdios da KEXP em Seattle:

Granduciel é um grande colecionador de discos, com uma queda pelos estetas do rock-country: Dylan, Neil Young e, especialmente, Springsteen (numa recente entrevista à revista "Uncut", ele se disse obcecado pela E Street Radio, um canal online dedicado somente à musica do Boss).

Ao longo dos anos, as músicas do WOD ficaram mais longas, densas e complexas. Sete das dez faixas de "A Deeper Understaning" têm mais de seis minutos, e "Thinking of a Place" passa dos onze.

As canções têm bases repetitivas, que ficam martelando na cabeça do ouvinte até as melodias se tornarem familiares (para quem gosta, sugiro ouvir a bandas alemãs dos anos 70 – Can, Faust, Neu!, Ash Ra Temple – e seu ritmo "Motorik", outra grande influência de Granduciel).

Estou ouvindo "A Deeper Understanding" desde que saiu, há duas semanas. Confesso que ainda prefiro "Lost in the Dream", para mim um dos melhores discos dos últimos anos (veja o clipe de "Under the Pressure):

Mas isso não quer dizer que o novo disco não venha a superar "Lost in the Dream". As músicas de Granduciel tendem a soar melhores a cada audição.

P.S.: Estou em viagem e com dificuldades para responder aos comentários com rapidez. Caso seu comentário demore a ser publicado, peço desculpas e um pouco de paciência.

Sobre o autor

André Barcinski é jornalista, roteirista e diretor de TV. É crítico de cinema e música da “Folha de S. Paulo”. Escreveu sete livros, incluindo “Barulho” (1992), vencedor do prêmio Jabuti de melhor reportagem. Roteirizou a série de TV “Zé do Caixão” (2015), do canal Space, e dirigiu o documentário “Maldito” (2001), sobre o cineasta José Mojica Marins, vencedor do Prêmio do Júri do Festival de Sundance (EUA). Em 2019, dirigiu a série documental “História Secreta do Pop Brasileiro”.

Sobre o blog

Música, cinema, livros, TV, e tudo que compõe o universo da cultura pop estará no blog, atualizado às terças-feiras.