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Há 40 anos, Marc Bolan foi para o espaço

André Barcinski

15/09/2017 05h59


Em 16 de setembro de 1977, Marc Bolan e a namorada, a cantora Gloria Jones, saíram de um bar no West End de Londres, entraram num Mini 1275GT roxo dirigido por Gloria (Marc tinha horror a carros e não dirigia, apesar de ter escrito diversas músicas sobre eles), e rumaram para casa. No distrito de Barnes, Gloria perdeu o controle do carro e bateu numa árvore. Marc morreu na hora. Faltavam duas semanas para seu 30º aniversário.

É impossível saber que rumo tomaria a música de Marc Bolan se não tivesse encontrado aquela árvore no meio do caminho. Seu rival direto, David Bowie, havia passado pelas mesmas fases – roqueiro mod, trovador folk à Dylan e super-herói glam – mas em 1977 já estava em outra, explorando novos sons.

Durante um breve período – 1971 a 1973 – Bolan foi mais famoso que Bowie na Inglaterra, mas uma combinação de álcool, cocaína e anfetaminas prejudicou sua carreira e suas amizades. Em 1977, ensaiava um retorno, quando partiu, deixando uma obra tão marcante quanto incompleta.

Quando morreu, aos 29, Bolan já era um veterano do circuito artístico-musical londrino. Desde os 15 anos era modelo e aparecia em revistas ostentando o look mod, febre modernosa da época. Aos 16, começou a tentar uma carreira em música. No ano seguinte, fez sua primeira gravação, "All At Once", uma baladinha pop no estilo de Cliff Richard.

Bolan (à direita) posando para um ensaio de moda em 1962

Entre 1968 e 1970, lançou quatro discos de folk hippie e psicodélico sob o nome Tyranossaurus Rex. Na virada da década, começou a encorpar o som da banda com guitarras e a substituir o visual hippie pela purpurina e maquiagem que lhe dariam um ar futurista-espacial. Bolan encurtou o nome da banda para T-Rex e, até 1977, lançou mais nove discos de estúdio. Nascia o glam rock.

A música de Bolan capturou perfeitamente o espírito da época. Era um som festivo e escapista, que falava de viagens espaciais, misticismo e vida em outros planetas e outras dimensões. Hoje pode parecer ingênuo, mas na época fazia todo o sentido. Como disse Peter Doggett em seu indispensável "O Homem Que Vendeu o Mundo – David Bowie e os Anos 70", havia realmente a ideia de que o planeta seria destruído por uma guerra nuclear ou invadido por seres espaciais, o que motivou o aparecimento de incontáveis seitas, cultos, religiões alternativas e profetas. O glam rock de Marc Bolan foi uma espécie de festa pré-apocalíptica.

Há um excelente documentário da BBC (infelizmente sem legendas) chamado "The Final Word", em que críticos e colaboradores, como o produtor Tony Visconti, falam da importância de Marc Bolan. Aqui está, na íntegra:

SETE CANÇÕES PARA CONHECER MARC BOLAN

"Sarah Crazy Child" – 1967


O radialista John Peel – grande fã de Bolan – apresenta essa versão ao vivo de "Sarah Crazy Child", filmada em um clube de Londres, em 1967.

"Bang a Gong (Get it On)" – 1971


Música mais famosa de Bolan, saiu no LP "Electric Warrior", um dos cinco mais vendidos na Inglaterra em 1971.

"Metal Guru" – 1972


Meu disco predileto de Bolan é "The Slider", de 1972, e "Metal Guru" nunca deixa de me emocionar.

"Children of the Revolution" – 1972


Gravada para o filme-concerto "Born to Boogie", dirigido em 1972 por Ringo Starr. Veja esse clipe matador, com Elton John no piano e Ringo na bateria:

"20th Century Boy" – 1973


Essa canção com guitarras pesadas mostra porque a geração que três anos depois criaria o punk venerava Bolan. Ele também gostava dos punks, tanto que chamou o grupo The Damned para abrir o que seria sua última turnê, em 1977. Quando soube da morte de Bolan, o baixista do Damned, Captain Sensible, compôs um tributo, "Smash It Up", hit do disco "Machine Gun Etiquette" (1979).

"Teenage Dream" – 1974


Em 1974, Bolan já cantava "O que aconteceu aos nossos sonhos de adolescência?" nessa faixa do disco "Zinc Alloy and the Hidden Riders of Tomorrow", como se soubesse da efemeridade de sua fama. Linda e triste demais.

"Dandy in the Underworld" – 1977


Faixa-título do último álbum de Bolan, marcou a volta dele às paradas depois de três discos considerados fracos. A letra resume bem a figura de Bolan: ele era um dândi no submundo.

Um ótimo fim de semana a todos.

P.S.: Estou em viagem e com dificuldades para responder aos comentários com rapidez. Caso seu comentário demore a ser publicado, peço desculpas e um pouco de paciência.

Sobre o autor

André Barcinski é jornalista, roteirista e diretor de TV. É crítico de cinema e música da “Folha de S. Paulo”. Escreveu sete livros, incluindo “Barulho” (1992), vencedor do prêmio Jabuti de melhor reportagem. Roteirizou a série de TV “Zé do Caixão” (2015), do canal Space, e dirigiu o documentário “Maldito” (2001), sobre o cineasta José Mojica Marins, vencedor do Prêmio do Júri do Festival de Sundance (EUA). Em 2019, dirigiu a série documental “História Secreta do Pop Brasileiro”.

Sobre o blog

Música, cinema, livros, TV, e tudo que compõe o universo da cultura pop estará no blog, atualizado às terças-feiras.