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“Poltergeist” foi um presente de Steven Spielberg a Tobe Hooper

André Barcinski

13/09/2017 05h59

O canal Maxprime exibe, à 0h05 da madrugada de quinta, "Poltergeist", dirigido por Tobe Hooper em 1982. Boa chance para rever um excelente filme de terror e homenagear Hooper, que morreu no fim de agosto, aos 74 anos.

Na verdade, "Poltergeist" foi co-dirigido por Hooper e Steven Spielberg. O projeto era de Spielberg, que havia escrito boa parte do roteiro e queria dirigir o filme, mas seu contrato o proibia de dirigir qualquer filme enquanto estivesse fazendo "E.T". Spielberg era fã de "O Massacre da Serra Elétrica do Texas" (1974), de Hooper, e convidou o cineasta para fazer "Poltergeist".

Mesmo proibido de assinar a direção, Spielberg esteve no set praticamente todos os dias, e chegou a dirigir várias sequências. Nessa foto, ele dirige os atores James Karen e Craig T. Nelson em uma das cenas finais.

E aqui, Spielberg e Hooper aparecem lado a lado no set:

Sobre Tobe Hooper, escrevi na "Folha":

Dois mil e dezessete tem sido um horror para o cinema de horror. Em julho perdemos George Romero, "inventor" dos filmes de zumbi e diretor de "A Noite dos Mortos Vivos" (1968). Agora foi a vez de Tobe Hooper, criador de um dos grandes clássicos do Cinema Nojo, "O Massacre da Serra Elétrica do Texas" (1974). Hooper morreu de causas naturais em Los Angeles, em 26 de agosto, aos 74 anos.

Hooper fez parte de uma geração de cineastas – junto a George Romero, John Carpenter, Joe Dante, Stuart Gordon, Wes Craven e outros – que pegou a última grande fase do cinema independente nos Estados Unidos. Muitos desses nomes vieram da escola Roger Corman de filmes B, e aprenderam com Corman a realizar produções baratas e de grande apelo comercial.

A história de Hooper, no entanto, é um pouco diferente: quando trabalhou para Corman, em "Eaten Alive" (1977), filme sobre um caipira psicótico que usa hóspedes de sua pousada como alimento para um jacaré de estimação, Hooper já havia deixado sua marca no cinema de horror – e principalmente na bilheteria – com "O Massacre da serra Elétrica" do Texas.

O filme é um marco do gênero "jovens estúpidos encontram assassinos seriais em locação remota". Cinco amigos, em visita ao Texas, acabam encontrando uma família de canibais liderada pelo sádico Leatherface.

Hooper tinha 21 anos quando decidiu fazer o filme. Era do Texas e conhecia bem o senso de isolamento de comunidades remotas do estado, que pareciam viver à margem da sociedade e onde discussões ainda eram resolvidas à bala.

Parcialmente inspirado no assassino serial Ed Gein, que também foi o "modelo" do Norman Bates de "Psicose" e do Hannibal Lecter de "O Silêncio dos Inocentes", Hooper criou o personagem Leatherface, um maníaco que ataca pessoas com uma motoserra (era uma motoserra, mas "serra elétrica" soava bem melhor no título em português).

Quando o filme foi lançado, os Estados Unidos ainda estavam em meio à Guerra do Vietnã e a um período de total desconfiança no governo e nas instituições. Hooper inventou que o filme era inspirado numa história real, usando o argumento de que se o governo poderia mentir para o país sobre a guerra, ele poderia muito bem contar uma mentirinha sobre um filme.
Deu certo: feito com menos de 300 mil dólares, rendeu, só nos Estados Unidos, cem vezes mais, puxado por uma campanha de divulgação sensacionalista e por intenso boca a boca (hoje, com a bilheteria ajustada pela inflação, o total arrecadado passaria de 146 milhões de dólares).

Um grande admirador do filme era Steven Spielberg, outro cineasta que iniciou a carreira no cinema B dos anos 70, dirigindo "thrillers" como "Encurralado" (1971), "Something Evil" (1972) e "Tubarão" (1975). Em 1982, Spielberg estava prestes a fazer "E.T." e havia escrito "Poltergeist", mas seu contrato o proibia de dirigir qualquer filme no mesmo período. Ele decidiu então convidar Hooper para dirigir "Poltergeist".

"Texas" e "Poltergeist" são filmes marcantes, que inspiraram muitas imitações e gravaram o nome de Tobe Hooper como um dos grandes diretores do cinema de horror. Ele nunca conseguiu repetir a força e impacto desses filmes, mas isso não diminui sua importância e influência.

P.S.: Estou em viagem e com dificuldades para responder aos comentários com rapidez. Caso seu comentário demore a ser publicado, peço desculpas e um pouco de paciência.

Sobre o autor

André Barcinski é jornalista, roteirista e diretor de TV. É crítico de cinema e música da “Folha de S. Paulo”. Escreveu sete livros, incluindo “Barulho” (1992), vencedor do prêmio Jabuti de melhor reportagem. Roteirizou a série de TV “Zé do Caixão” (2015), do canal Space, e dirigiu o documentário “Maldito” (2001), sobre o cineasta José Mojica Marins, vencedor do Prêmio do Júri do Festival de Sundance (EUA). Em 2019, dirigiu a série documental “História Secreta do Pop Brasileiro”.

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