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Sai no Brasil a "Bíblia" do indie rock americano pré-Nirvana

André Barcinski

03/12/2018 05h59

Do Texas, surgiu o Butthole Surfers

Quando o Nirvana desbancou Michael Jackson das paradas de discos, em 1991, muita gente achou que a banda surgira do nada. O público em geral nunca tinha ouvido falar do Nirvana ou da pequena gravadora que a havia descoberto, a Sub Pop, de Seattle (noroeste dos Estados Unidos).

Mas o sucesso do Nirvana não aconteceu num vácuo. Pelo menos dez anos antes do lançamento do LP "Nevermind", começou a ser formada nos Estados Unidos uma ampla rede de gravadoras, fanzines, casas de shows e rádios alternativas, que davam suporte a centenas, milhares de bandas.

Em 2001, o jornalista estadunidense Michael Azerrad lançou um livro importante para entender esse movimento e a história do rock alternativo norte-americano pré-Nirvana: "Our Band Could Be Your Life – Notes from the American Indie Underground 1981-1991", que finalmente sai no Brasil, com o título de "Nossa Banda Podia Ser Sua Vida" (editora Powerline Books & Music). O livro sai oficialmente dia 6 de dezembro, mas já está rolando uma pré-venda.

"Nossa Banda Podia Ser Sua Vida" é dividido em 13 capítulos, contando as histórias de 13 bandas fundamentais:

– Black Flag
– The Minutemen
– Mission of Burma
– Minor Threat
– Hüsker Dü
– The Replacements
– Sonic Youth
– Butthole Surfers
– Big Black
– Dinosaur Jr.
– Fugazi
– Mudhoney
– Beat Happening

Azerrad é um dos principais jornalistas musicais dos Estados Unidos, com passagens por revistas como "Rolling Stone" e "Spin", e autor de uma ótima biografia do Nirvana, "Come As You Are".

O jornalista Michael Azerrad

Em "Nossa Banda Podia ser Sua Vida" – frase tirada de uma canção do The Minutemen – Azerrad faz um excelente trabalho jornalístico, contando a formação de cada banda e de suas respectivas cenas.

Ele viaja da costa leste do país, com Sonic Youth e Minor Threat, à oeste, com The Minutemen, Black Flag e Mudhoney, passando pelo meio-oeste, casa de Big Black, Hüsker Dü e Replacements,e pelo centro-sul, com os texanos do Butthole Surfers.

O Mission of Burma é desconhecido do grande público, mas influenciou Pixies, R.E.M. e muitos outros

A impressão é de que, no início dos anos 80, havia um movimento alternativo por todo o país. Foi um período de idealismo e empreendedorismo, quando jovens criaram gravadoras em garagens e começaram a fazer fanzines e programas de rádios, com o objetivo de divulgar a música que não viam na MTV e não ouviam nas grandes emissoras.

Azerrad diz que teve a ideia de fazer o livro ao assistir na TV a um documentário sobre a história do rock, em que a cronologia pulava do Talking Heads diretamente para o Nirvana, ignorando tudo que surgira entre o fim dos anos 70 e o início dos 90.

Este livro coloca bandas pioneiras e pouco conhecidas, como Mission of Burma e Big Black, em seus devidos lugares: como nomes cruciais de uma cena musical das mais ricas.

Azerrad virá ao Brasil para o lançamento e participa de dois eventos dentro do SIM SP (Semana Internacional de Música de São Paulo): no dia 6 de dezembro, às 13h30, no Centro Cultural São Paulo – Sala Paulo Emílio, faz um debate com Steve Shelley (Sonic Youth), Dago Donato e Raquel Francese, e no dia seguinte, às 18h, no Centro Cultural São Paulo – Jardim Sul, autografa o livro.

Não será a primeira vez que Azerrad vem ao Brasil. Em 2008, eu o trouxe para um festival que ajudei a produzir, e que teve shows de Melvins e The Hives. Azerrad participou de um debate com integrantes do Melvins, que brincaram com ele, reclamando da ausência da banda no livro. Azerrad se desculpou: "Vocês têm toda razão. Não colocar o Melvins foi um erro imperdoável".

Visite meu site: andrebarcinski.com.br

Sobre o autor

André Barcinski é jornalista, roteirista e diretor de TV. É crítico de cinema e música da “Folha de S. Paulo”. Escreveu sete livros, incluindo “Barulho” (1992), vencedor do prêmio Jabuti de melhor reportagem. Roteirizou a série de TV “Zé do Caixão” (2015), do canal Space, e dirigiu o documentário “Maldito” (2001), sobre o cineasta José Mojica Marins, vencedor do Prêmio do Júri do Festival de Sundance (EUA). Em 2019, dirigiu a série documental “História Secreta do Pop Brasileiro”.

Sobre o blog

Música, cinema, livros, TV, e tudo que compõe o universo da cultura pop estará no blog, atualizado às terças-feiras.