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Elton John: “Será que alguém vai se lembrar de mim pela minha música?”

André Barcinski

22/10/2018 07h07

Há uns 15 anos, uma revista musical inglesa fez uma grande retrospectiva da carreira de Elton John. O jornalista perguntou a Elton como ele gostaria de ser lembrado. Elton respondeu: "Será que alguém vai se lembrar de mim pela minha música?".

De fato, há muito para lembrar em Elton John além de sua música: os óculos, o visual, a coleção de discos, a filantropia, a obsessão pelo time de futebol do Watford, a luta contra a disseminação da Aids. É tanta coisa que tira a atenção de um fato incontestável: Elton John foi o maior popstar do mundo nos anos 70.

Na primeira metade daquela década, ele lançou uma sequência de sete LPs de estúdio que venderam aos milhões: "Madman Across the Water" (1971), "Honky Château" (1972), "Don't Shoot Me I'm Only the Piano Player" (1973), "Goodbye Yellow Brick Road" (1973), "Caribou" (1974), "Captain Fantastic and the Brown Dirt Cowboy" (1975) e "Rock of the Westies" (1975).

Um novo livro, recentemente lançado no Brasil, conta a história da década em que Elton John reinou na música pop: "Captain Fantastic – A Espetacular Trajetória de Elton John nos Anos 70", de Tom Doyle (Editora Benvirá).

Doyle, autor de um livro sobre a carreira de Paul McCartney nos anos 1970 (que ainda não li), narra a trajetória de Reginald Kenneth Dwight, um tímido e desajeitado pianista de bandas de baile que, no fim dos anos 60, muda de nome e se transforma em Elton John.

O começo da carreira de Elton é muito interessante e foi marcado por encontros casuais. Sua união com o letrista Bernie Taupin aconteceu em 1967, depois que os dois responderam ao mesmo anúncio de jornal, publicado por uma gravadora em busca de compositores.

Dali em diante, Elton, 20, e Bernie, 17, nunca mais se separariam (quer dizer, eles brigaram por um pequeno período, no fim dos anos 70, mas logo fariam as pazes). Taupin, que morava numa fazenda no nordeste da Inglaterra, largara os estudos e estava trabalhando num abatedouro quando viu o anúncio de jornal que mudaria sua vida.

Os dois não podiam ser mais diferentes: Elton era um pavão, que adorava os holofotes e a vida de celebridade; Bernie era um recluso que preferia ficar em casa escrevendo as letras que Elton musicava.

O livro de Doyle narra a carreira meteórica de Elton, que lançou seu primeiro disco de estúdio, "Empty Sky", em 1969, e dois anos depois já era um astro, tendo gravado canções como "Tiny Dancer".

O autor descreve em detalhes os shows triunfais que Elton realizou nos Estados Unidos em 1970, em especial alguns no clube Troubadour, em Los Angeles, e a famosa apresentação numa rádio nova-iorquina em 17 de novembro de 1970, considerada pelo próprio Elton uma das melhores performances de sua carreira e que acabou sendo lançada como um disco ao vivo, "17-11-70".

Agora, que Elton John está em meio à sua turnê de despedida, que começou em setembro nos Estados Unidos e vai até 2021, o livro de Doyle é ainda mais relevante, porque conta a história de Elton John além das roupas espalhafatosas e dos óculos esquisitos.

Visite meu site: andrebarcinski.com.br

Sobre o autor

André Barcinski é jornalista, roteirista e diretor de TV. É crítico de cinema e música da “Folha de S. Paulo”. Escreveu sete livros, incluindo “Barulho” (1992), vencedor do prêmio Jabuti de melhor reportagem. Roteirizou a série de TV “Zé do Caixão” (2015), do canal Space, e dirigiu o documentário “Maldito” (2001), sobre o cineasta José Mojica Marins, vencedor do Prêmio do Júri do Festival de Sundance (EUA). Em 2019, dirigiu a série documental “História Secreta do Pop Brasileiro”.

Sobre o blog

Música, cinema, livros, TV, e tudo que compõe o universo da cultura pop estará no blog, atualizado às terças-feiras.