Filme revela o gênio atormentado que inovou a literatura
A Netflix acaba de disponibilizar o longa "O Fim da Turnê", de James Ponsoldt ("O Círculo").
O filme se passa em 1996 e conta os cinco dias do encontro do jornalista David Lipsky com o escritor David Foster Wallace. Lipsky estava escrevendo um perfil de Wallace para a revista "Rolling Stone" e acompanhou o escritor no fim da turnê de lançamento do romance "Infinite Jest" (no Brasil, "Graça Infinita").
Jesse Eisenberg (o Mark Zuckergerg de "A Rede Social") interpreta Lipsky e Jason Segel ("How I Met Your Mother") faz David Foster Wallace.
O filme está longe de ser uma obra-prima e foi criticado por amigos de Wallace por imperfeições na descrição do personagem (leia aqui, em inglês, um texto do crítico de cinema e jornalista Glenn Kenny), mas traz um ingrediente que anda sumido do cinema moderno: a discussão sobre arte e as motivações do artista.
Quando conheceu Wallace, Lipsky era um romancista muito promissor. Seu primeiro – e até hoje único – romance, "The Art Fair", de 1996, foi elogiadíssimo, mas deu azar de sair poucos meses depois de "Infinite Jest", um tijolo de mais de mil páginas, considerado por muitos críticos um dos romances mais importantes e desafiadores das últimas décadas.
Confesso que não encarei as 1079 páginas de "Infinite Jest". Até comecei, mas acabei deixando de lado depois de umas 100, menos pelo talento de Wallace, que é evidente, quanto pelo estilo e tema, que não são a minha praia. Mas isso é um problema meu, e não do livro. Já os dois volumes lançados no Brasil pela Cia. das Letras, a coletânea de contos "Breves Entrevistas com Homens Hediondos" e a coletânea de ensaios, "Ficando Longe do Fato de Já Estar Longe de Tudo", devorei em poucos dias, e recomendo demais (leia aqui um texto que fiz em 2013 sobre um ensaio fantástico de Wallace a respeito do tenista Roger Federer).
Voltando ao filme: "O Fim da Turnê" mostra Lipsky entrevistando Wallace e descobrindo, pouco a pouco, as motivações e inspirações do escritor. Wallace era obcecado por TV e pela massificação da cultura, e escrevia sobre o isolamento que sentia em uma sociedade tão dominada pelo poder da imagem. O autor também sofria de depressão e problemas com álcool e drogas.
Em 2008, David Foster Wallace se suicidou. Tinha 46 anos. Dois anos depois, Lipsky publicou o livro "Although Of Course You End Up Becoming Yourself – A Road Trip With David Foster Wallace", com a íntegra da entrevista (que acabou não sendo publicada pela "Rolling Stone"), e comentários sobre a literatura de Wallace e suas visões de mundo.
De novo: "O Fim da Turnê" não é um grande filme, mas se inspirar alguém a ler David Foster Wallace e a tentar compreender suas ideias, terá cumprido seu papel.
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