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“A Guerra do Vietnã” é uma obra-prima do cinema documental

André Barcinski

18/07/2018 05h59

Sou muito fã de Ken Burns.

Burns é um documentarista norte-americano especializado em filmes longos e que abrangem temas ambiciosos. Ele dirigiu séries sobre a Guerra Civil americana ("The Civil War", 1990), a história do jazz ("Jazz", 2001), a Segunda Guerra ("The War", 2007) e a Lei Seca ("Prohibition", 2011).

Seu mais recente projeto, "A Guerra do Vietnã", codirigido com a colega Lynn Novick, é um épico de dez episódios, somando mais de 17 horas, e está disponível no Netflix. Estou na metade e completamente vidrado.

Os filmes de Burns têm um estilo formal. Ele é um documentarista "raiz", desses que gostam de intercalar imagens de arquivo com entrevistas, e usar narração para conduzir a história. Não é um cineasta chegado a grandes arroubos estilísticos ou experimentalismos.

O negócio é que ninguém sabe fazer o básico como Ken Burns. Seus filmes são formais, mas feitos com uma categoria absurda. É impressionante a qualidade das entrevistas, do texto, da narração, da música, da pesquisa, da escolha das imagens de arquivo, da montagem, enfim, de tudo.

Aqui, o roteiro é do multipremiado historiador Geoffrey Ward, a narração foi gravada pelo grande ator Peter Coyote, e a música original foi composta pela dupla Trent Reznor e Atticus Ross, do Nine Inch Nails. A série levou dez anos para ficar pronta e custou cerca de 30 milhões de dólares (110 milhões de reais). A equipe de pesquisadores, liderada por Geoffrey Ward, analisou mais de 24 mil fotografias e 1500 horas de material de arquivo.

"A Guerra do Vietnã" cobre 160 anos de história, da dominação francesa no Vietnã, em 1858, aos dias de hoje, quando norte-americanos e vietnamitas ainda curam suas feridas.

Uma das grandes qualidades da série é a imparcialidade. Burns e Novick não contaram a história do conflito apenas pela ótica norte-americana, mas deram voz aos vietnamitas. Mais de um terço dos 79 entrevistados da série são vietnamitas, incluindo militares, jornalistas, historiadores e simples cidadãos cujas vidas foram afetadas pelo combate.

Veja Ken Burns e Lynn Novick falando sobre a série (dublados em espanhol)

"A Guerra do Vietnã" é uma série histórica, mas algumas de suas passagens mais emocionantes são dedicadas a histórias pessoais. Burns sabe que é importante contar o macro sem esquecer o micro. Assim, narrativas sobre batalhas épicas e decisões diplomáticas cruciais são intercaladas com relatos sobre pessoas que não estão nos livros de História: a menina vietnamita que virou guerrilheira depois que sua aldeia foi queimada; o rapaz norte-americano que fazia trabalho voluntário e que acabou morto por engano em uma emboscada, e outros.

Visite meu site: andrebarcinski.com.br

Sobre o autor

André Barcinski é jornalista, roteirista e diretor de TV. É crítico de cinema e música da “Folha de S. Paulo”. Escreveu sete livros, incluindo “Barulho” (1992), vencedor do prêmio Jabuti de melhor reportagem. Roteirizou a série de TV “Zé do Caixão” (2015), do canal Space, e dirigiu o documentário “Maldito” (2001), sobre o cineasta José Mojica Marins, vencedor do Prêmio do Júri do Festival de Sundance (EUA). Em 2019, dirigiu a série documental “História Secreta do Pop Brasileiro”.

Sobre o blog

Música, cinema, livros, TV, e tudo que compõe o universo da cultura pop estará no blog, atualizado às terças-feiras.