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Um gênio da música pop aterrisou – quase anônimo – no Brasil

André Barcinski

22/01/2018 05h59


O Dire Straits Legacy, banda-tributo ao grupo britânico Dire Straits, está em meio a uma turnê brasileira. Já tocou em Laguna (SC), Biguaçu (SC) e Brasília, e se apresenta ainda em São Paulo, dia 25, e São Carlos (SP), dia 26.

Confesso que não sou grande fã do Dire Straits e não estava pensando em ir ao show. Mas depois de descobrir quem é o baixista convidado para a turnê, talvez mude de ideia, nem que seja para ver o cara em cima de um palco.

Ele é ninguém menos que Trevor Horn, um dos músicos e produtores mais importantes e influentes da música pop. Tão importante que é chamado por muitos de "O homem que inventou os anos 80".

Pode parecer exagero, mas só um pouco. Horn, 68, ajudou a definir os padrões sonoros e estéticos dos anos 80, produzindo – e, às vezes, compondo – discos que se tornariam ícones do período.

Aqui vai, em ordem cronológica, um pequeno currículo audiovisual de Trevor Horn:

The Buggles – Video Killed the Radio Star (1979)


Horn começou a carreira como músico de estúdio na década de 70. Uma de suas primeiras bandas foi The Buggles, um duo de pop eletrônico que fez imenso sucesso com o LP "The Age of Plastic" (1980). O compacto "Video Killed the Radio Star", lançado no fim de 1979, marcou a vida de muita gente. Foi também o primeiro clipe exibido pela MTV, em 1981. Dirigido pelo australiano Russel Mulcahy ("Highlander"), o clipe virou símbolo da new wave e transformou Horn (o nerdão de óculos) em ídolo pop.

Trevor Horn nos anos 80, a década que ele "inventou"

Dollar – Mirror, Mirror (1982)


Hoje poucos lembram o cafoníssimo duo Dollar, mas em 1982, "Mirror Mirror", produzido por Horn, era inescapável.

ABC – Tears are not Enough (1982)


"The Lexicon of Love", LP de estreia do ABC, foi uma produção de Horn e tornou-se um marco do movimento new romantic, que revelou também Adam and the Ants, Duran Duran, Spandau Ballet e Visage, entre muitos outros.

Yes – Owner of a Lonely Heart (1983)


Em 1980, Horn foi convidado para substituir o vocalista Jon Anderson no Yes. Ele gravou só um disco com o Yes, "Drama" (1980), mas três anos depois produziu o maior sucesso comercial do grupo, "90125", que trouxe o hit "Owner of a Lonely Heart".

Malcolm McLaren – Buffalo Gals (1983)


Em 1983, o empresário que havia inventado os Sex Pistols, Malcolm McLaren, tentou a carreira de artista e lançou, com produção de Trevor Horn, o esquisito LP "Duck Rock", que misturava batidas de hip hop, rock e música caribenha. Foi um grande sucesso comercial.

Frankie Goes to Hollywood – Relax (1984)


"Relax", uma canção explícita sobre sexo oral, foi o maior sucesso comercial da carreira de Horn como produtor. E poucas vezes seu estilo autoritário e centralizador ficou tão em evidência: duvidando das habilidades musicais do FGTH, Horn chamou a banda de apoio de Ian Dury, The Blockheads, para gravar a canção. Ainda descontente com o resultado, montou um time de músicos de estúdio e gravou a versão definitiva desse clássicos das pistas.

Pet Shop Boys – Left to My Own Devices (1986)


Neil Tennant e Chris Lowe ficaram loucos com o perfeccionismo de Horn, que levou meses no estúdio gravando e regravando essa faixa até se dar por satisfeito.

Seal – Crazy (1990)


No início dos anos 90, Trevor Horn assinou para sua gravadora ZZT um cantor desconhecido chamado Seal, que depois viria a vender mais de 20 milhões de discos. O compacto "Crazy", lançado no fim de 1990, foi o maior sucesso de Seal até "Kiss from a Rose" virar tema de "Batman Forever" (1995).

Além de todos esses hits, Trevor Horn trabalhou com Paul McCartney, Rod Stewart, Tina Turner, e mais recentemente, com Belle & Sebastian, John Legend e Robbie Williams.

Mas sua vida não foi só teve alegrias. Os últimos anos, aliás, foram trágicos: em 2014, Horn perdeu a esposa – e parceira na ZZT – Jill Sinclair. Ela morreu de câncer, mas estava há oito anos em coma, depois de ser atingida acidentalmente no pescoço por um fragmento de um projétil de um rifle de ar comprimido disparado por um dos filhos do casal. No fim de 2017, outra má noticia: o estúdio de Horn, localizado em Los Angeles, foi destruído pelo imenso incêndio que atingiu a cidade.

Sobre o autor

André Barcinski é jornalista, roteirista e diretor de TV. É crítico de cinema e música da “Folha de S. Paulo”. Escreveu sete livros, incluindo “Barulho” (1992), vencedor do prêmio Jabuti de melhor reportagem. Roteirizou a série de TV “Zé do Caixão” (2015), do canal Space, e dirigiu o documentário “Maldito” (2001), sobre o cineasta José Mojica Marins, vencedor do Prêmio do Júri do Festival de Sundance (EUA). Em 2019, dirigiu a série documental “História Secreta do Pop Brasileiro”.

Sobre o blog

Música, cinema, livros, TV, e tudo que compõe o universo da cultura pop estará no blog, atualizado às terças-feiras.