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Lollapalooza 2018: não dá pra deixar de perder

André Barcinski

27/09/2017 14h50


Em julho do ano passado, fiz uma reportagem para o UOL chamada "Por que os festivais de música estão ficando todos iguais?" (leia aqui), em que tentei explicar como o fato de três ou quatro empresas de entretenimento controlarem os maiores eventos de música do planeta estava tornando as escalações dos festivais praticamente idênticas.

Hoje, o Lollapalooza anunciou o line-up de sua edição de 2018 no Brasil, e corroborou a matéria.

As atrações principais são Pearl Jam, The Killers e Red Hot Chili Peppers. Os dois primeiros foram headliners do Lolla de 2013 no Brasil, e o Red Hot praticamente mora em Jacarepaguá, tendo se apresentado no Rock in Rio esses dias.

Muitas das atrações secundárias também estiveram recentemente no Brasil: uma desgraça de pop publicitário chamada Imagine Dragons tocou no Lolla em 2014; Lana Del Rey fez shows por aqui em 2013, e Royal Blood esteve no Rock in Rio em 2015. O LCD Soundsystem fez uma turnê de "despedida" por aqui em 2011 e agora volta para uma turnê de "ressurreição" (como foi rápido o "adeus" de James Murphy, não? Acabou o dindim?).

Vai ter alguma coisa que preste? Bom, num festival com mais de 70 atrações é difícil não ter nada que valha a pena ver. Destaco Spoon, The National e David Byrne (e confesso que não conheço pelo menos uns 20 nomes no line-up). Mas nenhum deles me fará sair de casa, a não ser por dever profissional.

Meu maior medo em grandes festivais nacionais é justamente esse: algum alucinado numa dessas empresas de entretenimento sofrer um surto e agendar uma banda boa, tipo Portishead, Nick Cave and the Bad Seeds ou Radiohead, o que me obrigaria a enfrentar horas nessa micareta indie. Ano que vem, felizmente, não corro esse risco.

É tudo tão igual, tão pasteurizado, tão previsível, que pensei em propor ao UOL fazer uma cobertura prévia do evento, com críticas dos shows e da transmissão ANTES de acontecerem. Aposto que acertaríamos mais de 80% do que acontecerá nos palcos e 90% dos comentários dos críticos do Multishow.

Sobre o autor

André Barcinski é jornalista, roteirista e diretor de TV. É crítico de cinema e música da “Folha de S. Paulo”. Escreveu sete livros, incluindo “Barulho” (1992), vencedor do prêmio Jabuti de melhor reportagem. Roteirizou a série de TV “Zé do Caixão” (2015), do canal Space, e dirigiu o documentário “Maldito” (2001), sobre o cineasta José Mojica Marins, vencedor do Prêmio do Júri do Festival de Sundance (EUA). Em 2019, dirigiu a série documental “História Secreta do Pop Brasileiro”.

Sobre o blog

Música, cinema, livros, TV, e tudo que compõe o universo da cultura pop estará no blog, atualizado às terças-feiras.