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Os melhores filmes de Roeg e Bertolucci, gigantes do cinema

André Barcinski

30/11/2018 05h59

Semaninha triste para o cinema: dia 23 morreu o cineasta britânico Nicolas Roeg, 90; três dias depois, morreu o italiano Bernardo Bertolucci, 77.

Aqui vai uma lista de meus cinco filmes prediletos de cada um deles (e antes que alguém reclame: não incluí "O Último Tango em Paris" porque acho que envelheceu mal demais).

Em ordem cronológica:

NICOLAS ROEG

Performance (1970)
Icônico e estranho filme de gângster passado em plena efervescência da "Swinging London", em que James Fox (não "Jamie Foxx", por favor) faz um meliante jurado de morte que se refugia na casa de um rockstar, vivido por Mick Jagger. Filmado em 1968, só foi lançado dois anos depois porque o estúdio ficou com medo da reação do público ao sexo e violência do filme.

Walkabout (1971)
Um homem sai de seu apartamento confortável numa cidade grande australiana e, sem razão aparente, leva os dois filhos para o meio do deserto e tanta matá-los. As crianças sobrevivem e são resgatadas por um menino aborígene, que tenta levá-las de volta à "civilização". Um de meus filmes prediletos.

Inverno de Sangue em Veneza (1973)
Inspirado num conto de Daphne Du Maurier – cujas obras foram adaptadas por Hitchcock em "Rebecca" e "os Pássaros" – é um clássico do terror psicológico sobre um casal (Donald Sutherland e Julie Christie) que, em viagem de trabalho a Veneza, é assombrado por imagens e lembranças da filha, que morrera afogada num riacho.

Eureka (1983)
Gene Hackman faz um explorador dos anos 1920 que encontra, literalmente, uma montanha de ouro. Ele se torna o homem mais rico do mundo, mas se desespera quando a filha (a sensacional Theresa Russell) cai de amores por um misterioso oportunista, vivido por Rutger Hauer. O filme é um delírio lisérgico à Jodorowsky, com algumas das cenas mais bonitas que já vi num filme.

A Convenção das Bruxas (1990)
Verdadeiro clássico da "Sessão da Tarde", esse filme infantil é baseado num romance divertidíssimo de Roald Dahl (autor de "A Fantástica Fábrica de Chocolate") e conta a história de um menino que viaja com a avó para um hotel na Noruega, onde se depara com uma convenção de feiticeiras lideradas pela diabólica Anjelica Huston. Roeg e Dahl dividiam o gosto pelo macabro e o humor negro.

BERNARDO BERTOLUCCI

Antes da Revolução (1962)
Nos anos 60, uma geração de cineastas italianos retomou os tons políticos do neorrealismo, mas com uma visão mais poética e menos panfletária. Artistas como Pasolini, Olmi, Bellochio e Bertolucci criaram histórias de personagens perdidos em meio a conflitos geracionais, sociais, sexuais e políticos. "Antes da Revolução" é um dos grandes filmes daquela safra, uma história centrada na história de um estudante que desconfia que seu melhor amigo cometeu suicídio.

O Conformista (1970)


Jean-Louis Trintignant faz Marcello, um assassino de aluguel ligado à polícia fascista na década de 1930. Por meio de "flashbacks", Bertolucci conta a história desse personagem, um homem incapaz de sentir culpa por seus crimes e que deixou sua humanidade perdida em algum canto da burocracia estatal. É um dos grandes filmes do cinema político italiano e traz uma cena antológica de assassinato numa floresta. De quebra, tem Stefania Sandrelli no elenco.

A Estratégia da Aranha (1970)
Um filme estranho e fascinante, baseado num conto de Borges, sobre um homem que volta à pequena cidade onde nasceu para tentar solucionar o mistério da morte do pai, que muitos consideram um herói anti-fascista.

O Último Imperador (1987)
Maior sucesso de crítica e público da carreira de Bertolucci, esse épico sobre a vida de Puyi, último imperador da China, ganhou nove Oscars e quatro Globos de Ouro. Destaque para a linda fotografia de Vittorio Storaro e a direção de arte.

Assédio (1998)
Pouca gente viu o último grande filme de Bertolucci, sobre um excêntrico pianista (David Thewlis) que se apaixona pela empregada (Thandie Newton), uma africana que fugiu para a Europa depois da prisão do marido, um ativista político.

Um maravilhoso fim de semana a todos.

Visite meu site: andrebarcinski.com.br

Sobre o autor

André Barcinski é jornalista, roteirista e diretor de TV. É crítico de cinema e música da “Folha de S. Paulo”. Escreveu sete livros, incluindo “Barulho” (1992), vencedor do prêmio Jabuti de melhor reportagem. Roteirizou a série de TV “Zé do Caixão” (2015), do canal Space, e dirigiu o documentário “Maldito” (2001), sobre o cineasta José Mojica Marins, vencedor do Prêmio do Júri do Festival de Sundance (EUA). Em 2019, dirigiu a série documental “História Secreta do Pop Brasileiro”.

Sobre o blog

Música, cinema, livros, TV, e tudo que compõe o universo da cultura pop estará no blog, atualizado às terças-feiras.