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Ator de “Game of Thrones” faz Hervé, o anão mais alucinado da TV

André Barcinski

26/11/2018 05h59

A HBO 2 exibe hoje,às 22h, "Meu Jantar com Hervé" (veja horários alternativos aqui), um drama sobre a vida trágica de Hervé Villechaize, o ator anão que interpretou o personagem Tattoo na série "Ilha da Fantasia" (1977-1984).

O filme foi dirigido pelo inglês Sacha Gervasi e inspirado por uma entrevista que ele fez com Villechaize em 1993, dias antes da morte do ator.

Villechaize é interpretado por Peter Dinklage, de "Game of Thrones". O filme levou cerca de 15 anos para ser feito. Gervasi e Dinklage levaram o roteiro para vários estúdios, mas o projeto só saiu do papel depois do estouro de "Game of Thrones".

"Meu Jantar com Hervé" não é um filme ruim, mas a história de Villechaize merecia um tratamento mais criativo. O roteiro, escrito pelo próprio Gervasi, é bastante esquemático e inventa o personagem de um jornalista inglês, Danny Tate (Jamie Dornan) que divide o protagonismo com Villechaize. O problema é que a vida de Hervé Villechaize é tão interessante e caótica que ninguém vai se interessar pelo que acontece com o jornalista. Seus dramas pessoais são fichinha perto da tragédia que foi a vida de Hervé.

O verdadeiro Hervé Villechaize (esq.) e Peter Dinklage interpretando o ator

Nascido em Paris em 1943, em meio à Segunda Guerra Mundial, Hervé foi diagnosticado com um tipo de nanismo e renegado pela mãe, que passou a tratá-lo com desprezo. O pai, ao contrário, fez de tudo para tentar "reverter" a condição do filho, incluindo tratamentos bizarros à base de injeções de medula de ovelha na espinha.

Vítima de "bullying" na escola e na rua, Hervé buscou refúgio nas artes e virou pintor. Quando sua carreira parecia que iria decolar, decidiu mudar para Nova York, e em 1964 caiu no meio da efervescência "beatnik" do Greenwich Village. Decidiu ser ator.

Sua grande chance veio em 1974, quando ganhou o papel do bandido Nick Nack em "007 Contra o Homem com a Pistola de Ouro" , em que contracenou com Roger Moore. Três anos depois, veio seu papel mais famoso: o de Tattoo, o assistente do misterioso Sr. Roarke (Ricardo Montalbán) em "A Ilha da Fantasia". Villechaize ficou famoso no mundo inteiro pelo grito na abertura da série: "O avião! O avião!".

Villechaize gostava de mulheres, drogas e álcool, e não era o tipo de economizar grana para tempos difíceis. Na época de "A Ilha da Fantasia", tinha um dos maiores salários da TV norte-americana, mas torrou quase tudo em orgias e festas. Depois de ser expulso da série por seguidas brigas com Ricardo Montalbán, nunca mais conseguiu levantar a carreira.

"Meu Jantar com Hervé" concentra o encontro do jornalista Danny Tate e de Hervé Villechaize em uma única noite de drogas e bebedeiras, quando o ator leva o repórter para um passeio de limusine por Los Angeles e conta sua história. O artifício de unir os personagens numa situação estranha e usá-la para relatar o passado de um deles não é exatamente novo, e as confissões de Villechaize soam um pouco forçadas e melodramáticas. Mas a história é tão boa que supera a dramaturgia meia boca. E Peter Dinklage mostra que é um ótimo ator.

P.S.: Esse texto já estava programado quando eu soube das mortes dos grandes cineastas Nicolas Roeg e Bernardo Bertolucci. Quarta-feira publico um texto especial sobre suas obras. Até lá.

Visite meu site: andrebarcinski.com.br

Sobre o autor

André Barcinski é jornalista, roteirista e diretor de TV. É crítico de cinema e música da “Folha de S. Paulo”. Escreveu sete livros, incluindo “Barulho” (1992), vencedor do prêmio Jabuti de melhor reportagem. Roteirizou a série de TV “Zé do Caixão” (2015), do canal Space, e dirigiu o documentário “Maldito” (2001), sobre o cineasta José Mojica Marins, vencedor do Prêmio do Júri do Festival de Sundance (EUA). Em 2019, dirigiu a série documental “História Secreta do Pop Brasileiro”.

Sobre o blog

Música, cinema, livros, TV, e tudo que compõe o universo da cultura pop estará no blog, atualizado às terças-feiras.