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Três gigantes do cinema morreram – e pouca gente parece se importar

André Barcinski

09/05/2018 05h59

"A Noite de São Lourenço", dos Irmãos Taviani

Nas últimas três semanas, o cinema perdeu três diretores muito importantes – e, coincidentemente, da mesma geração: no dia 15 de abril, morreu o italiano Vittorio Taviani, aos 88 anos; dia 21 de abril, foi a vez do brasileiro Nelson Pereira dos Santos, 89; e em 5 de maio, morreu o italiano Ermanno Olmi, aos 86.

As mortes não mereceram, na imprensa, o espaço condizente com a importância dos cineastas. Porque esses caras não eram diretores quaisquer; eles fizeram, cada qual a seu estilo, alguns dos filmes mais bonitos e relevantes do cinema.

Acho que o pouco espaço dedicado à notícia dessas três partidas tem a ver com a decadência da cinefilia e da pesquisa dos clássicos. Quase não existem mais cinemas de repertório, e serviços de streaming como Netflix, que hoje dominam o mercado, ignoram solenemente filmes antigos.

Se você não conhece o trabalho desses cineastas, sugiro tentar assistir ao menos o filme mais famoso de cada um deles.

VITTORIO TAVIANI

Vittorio (esq.) e Paolo Taviani

Bem antes dos Irmãos Coen, o cinema tinha outra dupla de irmãos que fez filmes arrebatadores: Vittorio e Paolo Taviani. Os Taviani faziam um cinema politizado, mas altamente lúdico e com imagens inesquecíveis, como "A Noite de São Lourenço" (1982), "Kaos" (1984) e "Bom Dia, Babilônia" (1987).

O filme mais conhecido dos Irmãos Taviani foi "Pai Patrão" (1977), inspirado na história real de Gavino Ledda, um autor e professor nascido numa vila pobre da Sardenha que teve de lutar contra um pai brutal, que o forçou a largar a escola para trabalhar como pastor de ovelhas.

NELSON PEREIRA DOS SANTOS

Nelson Pereira dos Santos na filmagem de "Como Era Gostoso o Meu Francês", em 1971

Nelson Pereira dos Santos fez vários filmes memoráveis, como "Rio 40 Graus" (1955), "Como Era Gostoso o Meu Francês" (1971) e "Memórias do Cárcere" (1984), mas sua obra-prima é mesmo "Vidas Secas" (1963), adaptado do romance de Graciliano Ramos. É um marco do Cinema Novo e um filme emocionante. Se a cena de Atila Iório sacrificando a cachorra Baleia não despedaçar seu coração, há algo errado com você.

ERMANNO OLMI

O cineasta italiano Ermanno Olmi

O italiano Ermanno Olmi fez dois filmes que me marcaram muito: "Il Posto" ("O Emprego", 1961), sobre um adolescente que abandona os estudos para tentar seu primeiro emprego, e "A Árvore dos Tamancos" (1978), sobre a vida de famílias de lavradores na região de Bergamo, na Lombardia. O título do filme se refere a uma árvore que um dos trabalhadores corta para fazer tamancos para que o filho possa ir à escola. É difícil pensar em um filme mais triste e comovente.

Visite meu site: andrebarcinski.com.br

Sobre o autor

André Barcinski é jornalista, roteirista e diretor de TV. É crítico de cinema e música da “Folha de S. Paulo”. Escreveu sete livros, incluindo “Barulho” (1992), vencedor do prêmio Jabuti de melhor reportagem. Roteirizou a série de TV “Zé do Caixão” (2015), do canal Space, e dirigiu o documentário “Maldito” (2001), sobre o cineasta José Mojica Marins, vencedor do Prêmio do Júri do Festival de Sundance (EUA). Em 2019, dirigiu a série documental “História Secreta do Pop Brasileiro”.

Sobre o blog

Música, cinema, livros, TV, e tudo que compõe o universo da cultura pop estará no blog, atualizado às terças-feiras.