Eu queria ser capaz de comer o seu câncer
Maria é minha sogra, mãe de minha mulher e avó de meus filhos. É também a pessoa mais corajosa que já conheci.
Há três anos, Maria foi diagnosticada com câncer. Desde então, iniciou uma batalha contra o tumor.
Ao lado do marido, Paulo, Maria percorria uma hora de carro até o hospital, esperava numa maca por uma ou duas horas, e passava por uma sessão de quimioterapia, em que substâncias químicas eram bombeadas em seu corpo por três, quatro, cinco ou até seis horas.
O primeiro dia depois da quimioterapia, dizia Maria, não era tão ruim. O problema vinha umas 24 horas depois, quando os efeitos atacavam com tudo: dores de cabeça, fadiga, perda de apetite, enjôos, queda de cabelo, fraqueza.
Uma sessão de quimioterapia deve ser dolorosa demais (digo "deve" porque nunca fiz, e dor à distância é abstração). Os efeitos são tão devastadores que é necessário um período de duas a três semanas entre sessões. Agora, imagine passar por uma, duas, três, quatro, oito, quinze, vinte e duas, trinta e sete, quarenta e três, CINQUENTA E DUAS sessões dessas. Não é para qualquer um.
Durante esse tempo todo, Maria nunca fraquejou. Acreditava na ciência e na medicina. Seguindo conselhos médicos, fez dieta, ginástica e exercícios de relaxamento. Fez de tudo – tudo mesmo – para combater a doença e prolongar ao máximo seu tempo ao lado das pessoas que amava e que a amavam de volta.
Foi uma lição de vida acompanhar esses três anos e ver como uma pessoa aparentemente frágil se transformou numa amazona destemida. Tudo para passar mais alguns segundos com a família, para ver os netos e beijá-los uma vez mais, e mais e mais.
E se existe UMA coisa boa em passar por um suplício tão longo, é saber que as pessoas queridas tiveram tempo para confortá-la, para dizer a ela o quanto ela é amada e que a família que ela construiu com tanta paixão vai ficar bem, apesar das saudades.
Maria se foi na noite de domingo, 1º de abril. Suas últimas palavras foram: "Eu amo todos vocês".
Em homenagem a ela, deixo essa mensagem, escrita há exatos 70 anos por Carl Sigman e Herb Magidson, aqui na versão imortal dos Specials:
"Divirta-se. É mais tarde do que você imagina."
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.