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Ele inventou a web e diz: a Internet precisa ser regulada

André Barcinski

14/03/2018 05h59

Até dias atrás, qualquer um que ousasse falar em regulação da web seria imediatamente acusado de servir a interesses da "velha mídia" – aquela que perdeu espaço com o advento de empresas "do bem", como Google, Facebook e Amazon.

Isso, felizmente, acabou.

Em 12 de março, data em que se comemorou o 29º aniversário da World Wide Web, o físico e cientista da computação Tim Berners-Lee publicou uma carta aberta em que pede regulação da Internet e diz que a monopolização transformou a web numa "arma de grande escala".

Berners-Lee deve saber o que diz. Afinal, esse inglês de 62 anos inventou a web. E mais: deu a Internet de presente para o mundo, sem cobrar royalties ou exigir patentes. Para ele, a web deveria ser um território livre para a disseminação de ideias e informação.

Como sabemos, não foi o que aconteceu. Em sua carta, Berners-Lee explica:

"A web a que muitos se conectaram anos atrás não é a mesma que novos usuários encontrarão hoje. O que um dia foi uma rica seleção de blogs e websites foi comprimida sob o peso poderoso de algumas poucas plataformas dominantes. Essa concentração de poder criou uma nova leva de guardiões, permitindo a poucas plataformas controlar que ideias e opiniões são vistas e compartilhadas. Essas plataformas dominantes são capazes de manter suas posições criando barreiras para competidores. Elas adquirem empresas pequenas que as desafiam, compram inovações, e contratam os maiores talentos da indústria. Some-se a isso a vantagem competitiva proporcionada pela informação coletada de seus usuários, e podemos prever que os próximos 20 anos serão muito menos inovadores do que os últimos.

O fato de o poder estar concentrado em tão poucas empresas tornou possível transformar a web em uma arma de grande escala. Nos últimos anos, vimos teorias de conspiração virar tendência em plataformas de redes sociais, contas falsas no Twitter e no Facebook acumularem tensões sociais, atores externos interferirem em eleições e criminosos roubarem dados pessoais".

A solução, segundo Berners-Lee, não pode ficar na mão das empresas de tecnologia:

"Temos buscado soluções nas próprias empresas. As empresas estão cientes dos problemas e estão fazendo esforços ara consertá-los – e, a cada mudança, afetando a vida de milhões de pessoas. A responsabilidade – e, às vezes, o ônus – de tomar essas decisões cabem a empresas que foram construídas para maximizar lucros, e não maximizar o bem social. Uma estrutura legal ou regulatória que responda por objetivos sociais pode ajudar a aliviar esses problemas".

Leia a íntegra da carta, em inglês, aqui.

Sobre o autor

André Barcinski é jornalista, roteirista e diretor de TV. É crítico de cinema e música da “Folha de S. Paulo”. Escreveu sete livros, incluindo “Barulho” (1992), vencedor do prêmio Jabuti de melhor reportagem. Roteirizou a série de TV “Zé do Caixão” (2015), do canal Space, e dirigiu o documentário “Maldito” (2001), sobre o cineasta José Mojica Marins, vencedor do Prêmio do Júri do Festival de Sundance (EUA). Em 2019, dirigiu a série documental “História Secreta do Pop Brasileiro”.

Sobre o blog

Música, cinema, livros, TV, e tudo que compõe o universo da cultura pop estará no blog, atualizado às terças-feiras.