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Adeus Fats Domino, o gênio tímido do rock

André Barcinski

25/10/2017 13h35


Quando se fala nos pioneiros do rock, os nomes mais lembrados são Chuck Berry e Little Richard, mas poucos lembram Fats Domino. É uma baita injustiça, porque Domino, que morreu dia 24, aos 89 anos, foi um pioneiro em várias frentes.

Em primeiro lugar, foi um dos primeiros músicos negros a ter seus discos tocados em rádios "brancas", no início dos anos 1950. Também foi um dos grandes responsáveis pela transformação do rhythm 'n' blues da Louisiana para o que viria a ser conhecido como "rock and roll". Fats Domino ajudou a tornar a música negra mais "palatável" ao público branco e a pavimentar o caminho para Elvis Presley e a explosão do rock, em meados dos anos 1950.

Talvez essa teimosia em não associar Domino ao surgimento do rock tenha a ver com seu estilo, muito menos agressivo do que Little Richard ou Chuck Berry. Fats era pianista e tinha uma voz grave e agradável, própria para baladas e música romântica. Não tinha pose de rebelde. Sua música era alegre e festiva, e fez imenso sucesso com um público eclético, que ia de adolescentes que acabavam de descobrir o rock a adultos que curtiam sua música altamente influenciada pelos sons de sua New Orleans natal.

A família de Domino era de origem "creole", descendentes do período de dominação francesa na Lousiana. Seu nome de batismo era Antoine, mas logo ganhou o apelido de "Fats", por causa dos quilinhos a mais que ostentou desde pequeno. Veio de uma família musical – o pai era um exímio violinista – e aprendeu a tocar piano nos saraus da família.

Seu primeiro grande sucesso foi a autobiográfica "The Fat Man" ("O Homem Gordo"), lançada em 1950, e considerado o primeiro compacto do rock a vender um milhão de cópias. Mas suas gravações mais conhecidas foram "Ain't that a Shame" (1955) e "Blueberry Hill" (1956), esta uma versão de uma canção dos anos 1940.

Diferentemente de seus contemporâneos do início do rock, como Elvis, Jerry Lee Lewis, Chuck Berry, Bo Diddley e Little Richard, Fats Domino tinha uma personalidade tímida e reservada. Não gostava de holofote, morou a vida inteira no mesmo bairro em New Orleans, e detestava tanto sair de lá que chegou a recusar um convite para tocar na Casa Branca, nos anos 1980.

Sua música influenciou muita gente. John Lennon, Neil Young, Tom Petty, Pat Boone, Cheap Trick, Los Lobos e Paul McCartnney são apenas alguns dos artistas que regravaram canções de Fats Domino.

Sobre o autor

André Barcinski é jornalista, roteirista e diretor de TV. É crítico de cinema e música da “Folha de S. Paulo”. Escreveu sete livros, incluindo “Barulho” (1992), vencedor do prêmio Jabuti de melhor reportagem. Roteirizou a série de TV “Zé do Caixão” (2015), do canal Space, e dirigiu o documentário “Maldito” (2001), sobre o cineasta José Mojica Marins, vencedor do Prêmio do Júri do Festival de Sundance (EUA). Em 2019, dirigiu a série documental “História Secreta do Pop Brasileiro”.

Sobre o blog

Música, cinema, livros, TV, e tudo que compõe o universo da cultura pop estará no blog, atualizado às terças-feiras.