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Dez canções que o público não entendeu

André Barcinski

27/09/2017 05h59

Semana passada, escrevi sobre como Ivete Sangalo e Gisele Bundchen não entenderam direito a canção "Imagine", de John Lennon (leia aqui). Um leitor, Marcio, sugeriu que eu fizesse um texto com outras canções mal compreendidas pelo público. Aqui vão dez delas:

Ring My Bell – Anita Ward (1979)


Um dos grandes clássicos da disco music esconde muitos segredos: "Ring My Bell" era uma gíria para o ato de levar uma mulher ao orgasmo. Não, Anita não estava pedindo para ninguém tocar a campainha de casa…

Loteria da Babilônia – Raul Seixas (1974)


À primeira audição, parece uma canção anárquica sobre um personagem revoltado ("Vai! Vai! E diga ao mundo que você está certo"), mas na verdade a letra de "Loteria da Babilônia" – título inspirado em um conto do argentino Jorge Luis Borges, um dos escritores favoritos de Paulo Coelho – narra vários acontecimentos da vida do ocultista inglês Aleister Crowley (1875-1947). Quando Raul canta "Você já cumpriu os doze trabalhos", refere-se não a Hércules e seus doze trabalhos, mas aos doze "livros sagrados" que Crowley escreveu entre 1907 e 1911, supostamente sob a influência de um espírito. O verso "e demonstrar o teorema da vida/ e os macetes do xadrez" não se refere a uma prisão, mas ao jogo de xadrez, do qual Crowley era praticante fervoroso. Finalmente, o verso "assinou duplicatas, inventou baralhos" remete às cartas de tarô que a pintora, mágica e ocultista inglesa Frieda Harris fez a pedido do amigo Aleister Crowley.

Every Breath You Take – The Police (1983)


Quantos casamentos não aconteceram ao som lânguido e sussurrado desse clássico do Police? Será que os noivos imaginavam que a letra havia sido escrita do ponto de vista de um "stalker" que quer a todo custo controlar a sua ex? Em entrevistas, Sting disse que a letra pode ser compreendida também como uma crítica à sociedade que vigia seus cidadãos 24 horas por dia. Nada menos romântico que George Orwell, não é mesmo?

You're Beautiful – James Blunt (2004)


Falando em música de casamento, essa é imbatível. Mas o próprio autor, James Blunt, em entrevista ao Huffington Post, fez questão de explicar a letra: "You're Beautiful' não é a porra de uma canção romântica doce! É sobre um cara que está chapado de drogas no metrô e fica dando em cima de uma mulher bem na frente do namorado dela, e esse maluco deveria ser preso por ser um pervertido!"

All That She Wants – Ace of Base (1992)


Quanta gente não ouviu o refrão desse megahit – "All that she wants / is another baby" e pensou que se referia a uma mulher que sonhava em ter mais um filho? Mas a intenção dos compositores, Jonas Berggren e Ulf Ekberg, do Ace of Base, era outra: no inglês tosco dos rapazes, a frase queria dizer que a personagem buscava um novo namorado.

Baby One More Time – Britney Spears (1998)


Outro exemplo da escola sueca de letras toscas em inglês: escrita pelo produtor Max Martin, "Baby One More Time" foi alvo de polêmica por causa do verso "Hit me baby one more time" ("Bata em mim de novo"). Mas o que Martin queria dizer era "Ligue para mim de novo".

Total Eclipse of the Heart – Bonnie Tyler (1983)


Escrita por Jim Steinman, um gênio do pop responsável pelo blockbuster "Bat out of Hell", de Meat Loaf, essa balada parece um lamento sobre a solidão. Mas em uma entrevista de 2002, Steinman revelou que a letra era sobre… vampiros! Segundo Steinman, a canção originalmente se chamava "Vampires in Love" e foi feita para um musical sobre Nosferatu. E mais: era cantada do ponto de vista de um vampiro.

Back Door Man – Howlin' Wolf (1960)


Quem não entendeu direito a letra não foi o público, mas o cantor Jim Morrison. A canção foi escrita pelo bluesman Wille Dixon e gravada por Howlin' Wolf. Morrison adorava a música e achava que a expressão "Homem da porta dos fundos" significava um sujeito que gostava de praticar sexo anal. Ele gravou a canção com The Doors em 1967. Mas a letra era bem menos pornográfica do que Jim imaginava: no sul dos Estados Unidos, "back door man" era uma gíria para um homem que tinha um caso com uma mulher casada.

Relax – Frankie Goes to Hollywood (1983)


Essa canção pop dançante fez sucesso na Inglaterra, até a BBC descobrir que a letra falava sobre sexo oral. Aí a música chegou a número 1 na parada inglesa e vendeu mais de dois milhões de compactos só no Reino Unido.

Jawbreaker – Judas Priest (1984)


Quantos metaleiros já não bateram cabeça ouvindo "Jawbreaker" ("Quebra Queixo"), sem imaginar que a letra falava sobre sexo oral? ("Mortal como uma víbora" / "Pulsando como uma bomba-relógio"). Veja o que o cantor do Priest, Rob Halford, disse ao site Noisey, da "Vice": "Sim, eu aludi a isso. Talvez essa temática gay estivesse em meu subconsciente. Porque se você pensar em um grande pênis enquanto ouve essa canção, ela [a letra] realmente se encaixa".

Sobre o autor

André Barcinski é jornalista, roteirista e diretor de TV. É crítico de cinema e música da “Folha de S. Paulo”. Escreveu sete livros, incluindo “Barulho” (1992), vencedor do prêmio Jabuti de melhor reportagem. Roteirizou a série de TV “Zé do Caixão” (2015), do canal Space, e dirigiu o documentário “Maldito” (2001), sobre o cineasta José Mojica Marins, vencedor do Prêmio do Júri do Festival de Sundance (EUA). Em 2019, dirigiu a série documental “História Secreta do Pop Brasileiro”.

Sobre o blog

Música, cinema, livros, TV, e tudo que compõe o universo da cultura pop estará no blog, atualizado às terças-feiras.