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“Bingo” reduz os anos 80 a pó (e ouça o "Garagem" especial de 25 anos!)

André Barcinski

30/08/2017 05h59

Quem tem saudades dos anos 80 é porque não esteve lá.

A indústria da nostalgia pinta a década de 80 como um período alegre e inocente, em que tudo era flúor, solar e praiano. Um mundo colorido onde a Blitz reinava, Juba e Lula armavam confusão, e latas de maconha eram encontradas boiando no litoral. Foi uma época de Garotas Douradas e Betes Balanços, em que a gente não parava mais de se amar, de se dar, de viver.

Essa é a história oficial dos anos 80.

Mas a realidade, para muitos, foi bem diferente. Aquela foi também a década da cocaína, das overdoses, da profissionalização do jabá nas rádios e do declínio de qualidade de nossa música. Uma época em que artistas de menor apelo comercial foram jogados na lixeira e as rádios, TVs e gravadoras se voltaram quase que exclusivamente para ídolos populares.

Por isso é bom ver um filme como "Bingo – O Rei das Manhãs", de Daniel Rezende, que traz uma visão mais sombria daquele período.

O filme é inspirado na vida de Arlindo Barreto, um dos intérpretes do palhaço Bozo na TV. Barreto se envolveu com drogas e chegou a apresentar o problema empenado de pó. No filme, o nome do palhaço foi mudado para "Bingo", assim como o SBT virou "TVP" e a Rede Globo virou "TV Mundial".

Os maiores trunfos do filme são a ótima atuação de Vladimir Brichta no papel principal e o relato da forma improvisada e escrachada com que Bingo conquista a audiência, com direito a piadas que hoje causariam processos e até prisão. Numa das melhores cenas, Bingo leva Gretchen (vivida espetacularmente por Emmanuelle Araújo) para dançar "Conga, Conga, Conga" com o auditório cheio de crianças.

Outra sequência engraçada mostra Bingo e a molecada cantando "Serão Extra", hit do grupo Dr. Silvana e Cia. com um dos refrães mais infames da música pop brazuca: "Eu fui dar, mamãe / dar um serão extra / trabalhei com o patrão".

É uma pena que "Bingo" apele para um desfecho um tanto moralista e careta, mas isso não tira o mérito de ter encontrado, na figura de um famoso palhaço de TV, um símbolo perfeito dos anos 80, em que a aparência de alegria e inocência escondia um personagem profundamente traumatizado e problemático.

OUÇA, NA ÍNTEGRA, O "GARAGEM" DE 25 ANOS

Foto: Robson Leandro

Há duas semanas, participei da edição especial de 25 anos do programa de rádio "Garagem", que apresentava com os amigos Paulo César Martin, Álvaro Pereira Jr. e André Forastieri.

Foi uma maratona de cinco horas de duração, que agora está disponível no Soundcloud, dividido em cinco partes.

Ouça aqui.

E aqui vai o texto que o site "Acervo Garagem" fez sobre o programa especial:

"Vai começar tudo outra vez": assim Álvaro Pereira Jr. abriu o especial de 25 anos do Garagem ao som da nossa lenda maior, Jota C, autor do nosso disco favorito, "Novo Millenium". Foram cinco horas de programa relembrando grandes momentos: ouvimos trechos de entrevistas com Kid Vinil, Jerry Adriani, Jacinto Figueira Jr., entre outros, além de gravações ao vivo de bandas que passaram pelo Garagem, como Ian McCulloch, Man or Astro-Man?, The Jordans e Buzzcocks. Trovão apareceu no programa depois das 3 da manhã, e, como sempre, ajudou na destruição de discos do Caetano Veloso, Marisa Monte, Titãs, entre tantos outros algozes do Garagem. O mítico Ary Robocob liga para os apresentadores no meio da madrugada e conta como tem sido sua vida ao lado do agronegócio no longínquo município de Santa Cecília, com população de pouco mais de sete mil habitantes, na Paraíba. Histórico!

Bloco "o Garagem em uma música"
1- Los Saicos – "Demolición" (escolha do Forastieri)
2- Arcade Fire – "No Cars Go" (escolha do Álvaro)
3- The Jesus and Mary Chain – "All Things Pass" (escolha do Barcinski)
4- Revolting Cocks – "Crackin' Up" (escolha do Paulão)

Bloco do Álvaro Pereira Jr.
5- John Lennon – "Mind Games"
6- New Order – "Temptation"
7- Arcade Fire – "Wake Up"

Bloco do André Forastieri
8- Kid Vinil – "Sou Coroa"
9- Blondie – "Long Time"
10- Robert Fripp – "You Burn Me Up I'm a Cigarette"

Bloco do André Barcinski
11- The Warlocks – "We Took All The Acid"
12- Night Beats – "The New World"
13- Leonard Cohen – "Leaving The Table"

Bloco do Paulo César Martin, Paulão
14- Cabaret Voltaire – "Yashar" (John Robie remix)
15- Curve – "Superblaster"
16- Sneaker Pimps – "The Fuel"

Foto: Robson Leandro

Bloco "Escravos do Garagem" – parte 1
17- Vice Squad – "Lithium" (cover Nirvana), escolha da Destemida Verônica Oliveira
18- Radiohead – "Idioteque" (ao vivo), escolha do Geraldo Arcanjo

Bloco dos "Escravos do Garagem" – parte 2
19- Jon Spencer Blues Explosion – "Bellbottoms", escolha do Alexandre Cassolato
20- Misfits – "Last Caress", escolha do Gabriel Gaiarsa

Bloco "Bandas que tocaram ao vivo no Garagem", parte 1
21- Ian McCulloch – "Flowers" (01/10/2001)
22- Man or Astro-Man? "Classified" (04/10/1999)
23- The Jordans – "Shadoggie" (28/10/2002)

Bloco "Bandas que tocaram ao vivo no Garagem", parte 2
24- Exploited – "Punk's Not Dead" (30/10/2000)
25- Buzzcocks – "What Do I Get? (25/06/2001)
26- GBH – "Diplomatic Immunity" (22/05/2000)

Bloco "Bandas que tocaram ao vivo no Garagem", parte 3
27- Cat Power – "The Party" (05/11/2001)
28- Luna – "Rock Your Baby" (cover de George McCrae) (24/9/2001)

Bloco final
29- Nick Cave & The Bad Seeds – "Nature Boy", escolha do Barcinski
30- Phew – "Closed", escolha do Álvaro
31- Emerson, Lake & Palmer – "Lucky Man", escolha do Paulão

RESULTADO DA PROMOÇÃO

PERGUNTA: Qual o nome do restaurante vegetariano que o Trovão da Luta Livre vai abrir com a Bela Gil?
1) "ALÉM DA RÚCULA DO TROVÃO" – Jhonatan Montanheiro
2) "BELLA BOSTA" – Thiago Egg
3) "ESFINCTERITO" – Bruno Figueiredo
4) "ROUCO BAMBU" – César Maciel
5) "TAFU" – Jorge Guberte

Sobre o autor

André Barcinski é jornalista, roteirista e diretor de TV. É crítico de cinema e música da “Folha de S. Paulo”. Escreveu sete livros, incluindo “Barulho” (1992), vencedor do prêmio Jabuti de melhor reportagem. Roteirizou a série de TV “Zé do Caixão” (2015), do canal Space, e dirigiu o documentário “Maldito” (2001), sobre o cineasta José Mojica Marins, vencedor do Prêmio do Júri do Festival de Sundance (EUA). Em 2019, dirigiu a série documental “História Secreta do Pop Brasileiro”.

Sobre o blog

Música, cinema, livros, TV, e tudo que compõe o universo da cultura pop estará no blog, atualizado às terças-feiras.