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Chega ao fim a saga do filme mais urucado do mundo

André Barcinski

07/06/2017 05h59

Depois de quase 20 anos, chegou ao fim a saga do filme mais urucado do mundo. Terry Gilliam, ex-membro do grupo cômico Monty Python e diretor de filmes como "Brazil" e "12 Macacos", anunciou que finalmente concluiu as filmagens de "O Homem que Matou Dom Quixote", projeto iniciado em 1998, mas interrompido diversas vezes por incontáveis problemas.

Em 2002, os cineastas Keith Fulton e Louis Pepe lançaram "Perdido em La Mancha", um documentário sobre a produção do filme de Gilliam.

Em 2015, escrevi sobre "Perdido em La Mancha":

O filme começou como um "making of" do filme de Gilliam, mas os desastres, azares e problemas se acumularam com tanta força que o filme acabou virando o diário de uma produção fracassada e um dos documentários mais tristes e angustiantes sobre o eterno conflito entre arte e comércio.

Gilliam é um visionário, um cineasta de imaginação imensa e senso estético peculiar. Quem viu seus filmes – ou as delirantes animações que e dirigiu para o programa de TV do Monty Python – só pode imaginar o que um talento como ele faria com a história de Don Quixote.

Acontece que Gilliam, a exemplo de muitos artistas de imaginação transbordante, não consegue ser tão cuidadoso ou prudente quando o assunto envolve a produção de seus filmes.
Logo no início da filmagem, realizada na área semidesértica de Bardenas Reales, no sul da Espanha, a equipe se desespera ao perceber que o lugar fica bem no caminho de um campo de pouso de aviões da OTAN. As filmagens são frequentemente interrompidas por jatos que passam no local.

Mas isso é só o começo dos problemas: numa noite, uma violeta tempestade destrói cenários e danifica equipamentos; logo depois, o ator francês Jean Rochefort, que interpreta Quixote, é diagnosticado com uma hérnia de disco e proibido de montar em cavalos.

O filme acompanha não só o dia a dia das filmagens, mas a batalha de Gilliam para manter os investidores satisfeitos e otimistas, inclusive realizando encontros entre eles e o astro do filme, Johnny Depp. Mas os problemas são tantos que a produção é suspensa.

Nos últimos 17 anos, Terry Gilliam fez várias tentativas de retomar o projeto. Em 2008, chegou a anunciar que Robert Duvall faria Dom Quixote. Dois anos depois, garantiu que Ewan McGregor substituiria Johny Depp, que estava ocupado em outro filme. No fim de 2014, Gilliam anunciou que "Dom Quixote" finalmente entraria em produção, com John Hurt e Jack O'Connel no elenco. Mas a produção não foi retomada.

Dia 5 de junho, o diretor anunciou que finalmente terminou o filme (leia a matéria do UOL aqui), 19 anos depois de iniciar a pré-produção.

Será que em 2018 veremos "O Homem que Matou Dom Quixote" nos cinemas? Será o fim da uruca de Terry Gilliam?

Sobre o autor

André Barcinski é jornalista, roteirista e diretor de TV. É crítico de cinema e música da “Folha de S. Paulo”. Escreveu sete livros, incluindo “Barulho” (1992), vencedor do prêmio Jabuti de melhor reportagem. Roteirizou a série de TV “Zé do Caixão” (2015), do canal Space, e dirigiu o documentário “Maldito” (2001), sobre o cineasta José Mojica Marins, vencedor do Prêmio do Júri do Festival de Sundance (EUA). Em 2019, dirigiu a série documental “História Secreta do Pop Brasileiro”.

Sobre o blog

Música, cinema, livros, TV, e tudo que compõe o universo da cultura pop estará no blog, atualizado às terças-feiras.