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Jeff Buckley foi um rio que passou em nossas vidas

André Barcinski

02/06/2017 05h59

Há exatos 20 anos, a música pop perdia um de seus artistas mais talentosos.

Na noite de 29 de maio de 1997, o cantor e compositor Jeff Buckley foi com um amigo nadar no rio Mississipi. Como já havia feito diversas vezes, Buckley caiu no rio totalmente vestido, usando inclusive botas. Mergulhou cantando o refrão de "Whole Lotta Love", do Led Zeppelin.

Seu corpo só foi encontrado uma semana depois, em 4 de junho. Buckley tinha 30 anos.

Naquela semana, Buckley iria encontrar sua banda em Memphis para começar as gravações de seu segundo disco, "My Sweetheart the Drunk". Durante sua breve carreira, só havia lançado um disco de estúdio, o ótimo "Grace" (1994), que trouxe sua interpretação mais famosa, a de "Hallellujah", de Leonard Cohen.

Depois de sua morte, a gravadora Columbia lançou uma série de discos póstumos, incluindo pelo menos quatro álbuns ao vivo e outros quatro com demos, fitas caseiras e versões em quatro canais de músicas que entrariam em "My Sweetheart the Drunk". Mas o grande disco de Jeff Buckley é mesmo "Grace".

A morte de Jeff Buckley teve um componente extra de drama porque lembrou a morte do pai, o talentosíssimo cantor Tim Buckley, que morreu em 1975, aos 28 anos, de overdose de heroína (e se você não conhece Tim Buckley, sugiro começar pelo LP "Starsailor", de 1970).

Veja Tim Buckley cantando "Song to the Siren", que viraria um grande sucesso em 1983 na versão do This Mortal Coil, com vocais de Elizabeth Fraser, do Cocteau Twins (e ganharia uma versão big beat cabulosa e irreconhecível dos Chemical Brothers em 1992):

Jeff foi muito influenciado pela música de Tim, embora o conhecesse pouco. Os pais se separaram assim que ele nasceu, e Jeff foi criado por um padrasto. Ele dizia que só havia estado com o pai uma vez, quando tinha oito anos de idade.

Jeff Buckley certamente não usou o nome ou prestígio do pai para alavancar sua carreira. Penou por seis ou sete anos tocando como músico de estúdio em Los Angeles, e depois foi para Nova York, onde começou sua carreira fazendo shows acústicos em pequenos bares e cafés.

No início dos anos 90, Buckley conheceu o guitarrista Gary Lucas, um músico extraordinário que tocara com Captain Beefheart, Lou Reed e John Cale (além de ser o maior fã de Zé do Caixão no mundo e ter feito vários shows tocando a trilha que compôs para o filme "Esta Noite Encarnarei no Teu Cadáver", de 1967). Lucas ajudou Buckley a compor algumas canções que entrariam em "Grace" e sugeriu que o disco tivesse uma sonoridade espartana, com arranjos minimalistas e que realçassem a voz de Buckley.

Um ótimo fim de semana a todos.

Sobre o autor

André Barcinski é jornalista, roteirista e diretor de TV. É crítico de cinema e música da “Folha de S. Paulo”. Escreveu sete livros, incluindo “Barulho” (1992), vencedor do prêmio Jabuti de melhor reportagem. Roteirizou a série de TV “Zé do Caixão” (2015), do canal Space, e dirigiu o documentário “Maldito” (2001), sobre o cineasta José Mojica Marins, vencedor do Prêmio do Júri do Festival de Sundance (EUA). Em 2019, dirigiu a série documental “História Secreta do Pop Brasileiro”.

Sobre o blog

Música, cinema, livros, TV, e tudo que compõe o universo da cultura pop estará no blog, atualizado às terças-feiras.