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Kid Vinil foi nosso guia para o mundo vasto e excitante dos bons sons

André Barcinski

22/05/2017 08h25

É difícil explicar para um novato fã de música, que tem todos os sons do mundo à disposição com um clique, a importância de Kid Vinil.

Kid, que morreu em 19 de maio, aos 62 anos, foi um dos caras que mais faz pela divulgação do rock nos anos 80, quando o Brasil vivia completamente isolado do resto do mundo.

Como bem disse meu amigo Álvaro Pereira Junior num texto emocionante para a "Folha", Kid foi nossa Internet, nossa conexão com um mundo que nem sabíamos que existia, um mundo vasto e excitante, que ia muito além das limitações de nossas radios FMs e nossas TVs abertas.

Em 2015, por ocasião do lançamento do livro "Kid Vinil – Um Herói do Brasil", de Ricardo Gozzi e Duca Belintani escrevi:

Todo brasileiro que gosta de rock deve muito a Antonio Carlos Senefonte, conhecido do Oiapoque ao Chuí por Kid Vinil. Por mais de 40 anos, Kid tem sido um defensor ferrenho dos bons sons, tanto em seus programas de rádio quanto em suas reportagens e nos discos que gravou com Magazine, Verminose e outras bandas.

"Kid Vinil – Um Herói do Brasil", de Ricardo Gozzi e Duca Belintani, é a biografia desse cara que faz parte de nossas vidas há tanto tempo. O livro é como a música de Kid: simples, divertido e direto ao ponto, sem nenhuma firula.

Muitos acham que a trajetória de Senefonte começou no fim dos anos 1970, quando estreou seu primeiro programa na Rádio Excelsior e tornou-se divulgador do punk de The Clash, Sex Pistols e Ramones e da new wave de Blondie e Talking Heads. Mas ele já trabalhava em gravadoras -na Continental- desde 1973, onde conheceu o produtor musical Pena Schmidt, seu grande mentor e autor do apelido "Kid Vinil".

Kid Vinil foi um dos primeiros roqueiros brasileiros a fazer com frequência a ponte aérea São Paulo -Londres-Nova York. Ele voltava dessas incursões com malas lotadas
de novidades que tocava em primeira mão em seu programa.

Nos anos 1980, fez grande sucesso com o Magazine e os hits "Sou Boy" (1983) e "Tic Tic Nervoso" (1984), e aparecia com frequência no programa do Chacrinha. Kid se tornou um herói pop nacional.

Sua atuação como divulgador da boa música nunca parou. Trabalhou na TV Cultura e na MTV, nas rádios 89, 97, Antena Um e Brasil 2000 e em gravadoras, como Eldorado e Trama.

Nessa época de informação fácil, em que dois cliques no Spotify (serviço de streaming) permitem acesso a quase toda a história da música, é necessário celebrar um sujeito que preencheu um imenso vácuo de informação que existia no Brasil. Muita gente cresceu ouvindo os discos que Kid Vinil tocou, divulgou e lançou.

Kid foi uma das figuras mais importantes do rock brasileiro e abriu a cabeça de muita gente, mas não parecia afetado por isso. Foi um cara dos mais doces e humildes. Era um boa praça, que adorava falar sobre música. Nunca ouvi ninguém dizendo uma coisa negativa sobre ele. Estava sempre disposto a ajudar bandas novas e a recomendar discos e bandas. Todos nós perdemos muito sem ele por perto.

Sobre o autor

André Barcinski é jornalista, roteirista e diretor de TV. É crítico de cinema e música da “Folha de S. Paulo”. Escreveu sete livros, incluindo “Barulho” (1992), vencedor do prêmio Jabuti de melhor reportagem. Roteirizou a série de TV “Zé do Caixão” (2015), do canal Space, e dirigiu o documentário “Maldito” (2001), sobre o cineasta José Mojica Marins, vencedor do Prêmio do Júri do Festival de Sundance (EUA). Em 2019, dirigiu a série documental “História Secreta do Pop Brasileiro”.

Sobre o blog

Música, cinema, livros, TV, e tudo que compõe o universo da cultura pop estará no blog, atualizado às terças-feiras.