Topo

Corinthians vs. Ponte Preta de 1977 era outro futebol

André Barcinski

05/05/2017 07h27


Quinta à noite a Bandsports exibiu um compacto com os melhores momentos de Corinthians vs. Ponte Preta, a decisão do campeonato paulista de 1977.

Foi um jogo marcante porque o Corinthians não ganhava um título há quase 23 anos e a vitória por 1 a 0, gol de Basílio, acabou com a chamada "fila" corintiana.

Foi muito divertido assistir ao jogo e perceber como o futebol mudou nesses 40 anos. Confira:

O condicionamento físico dos atletas era muito pior que o de hoje
Para um espectador acostumado ao futebol moderno, o jogo de 1977 certamente parece lento e sem intensidade. A marcação só ocorria atrás da linha de meio de campo, e os jogadores não tinham a mesma velocidade e força física de hoje. É nítida a diferença de força e velocidade nos cruzamentos dos laterais para a área e até nos tiros de meta batidos pelos goleiros.

O jogo era mais "pegado"
Talvez por causa da precariedade da transmissão de TV, que não capturava todos os lances em detalhes, os jogadores não hesitavam em usar de artifícios violentos e até desonestos. Durante a partida, houve uma série de chutes nas canelas, tapas e "tostões" (ou "paulistinhas", como dizem alguns) distribuídos pelos jogadores nos adversários.

A transmissão de TV era simplória
O VT do jogo na Bandeirantes só tinha uma câmera, com uma visão panorâmica do gramado. Pelo menos na transmissão exibida ontem, não havia câmera atrás do gol. E o mais curioso: não havia replay. Nem o gol de Basílio foi repetido durante a transmissão. Naquela época, se você fosse ao banheiro no meio do jogo e perdesse um gol, teria de esperar até o fim do jogo para vê-lo.

Não havia "cera" dentro do campo. Já do lado de fora…
De um modo geral, não se via jogadores caindo no gramado e simulando contusões para ganhar tempo. No fim do jogo, com a Ponte pressionando pelo empate, o zagueiro do Corinthians, Ademir, leva um chute na barriga. O juiz Dulcídio Wanderley Boschilla não só não permite que a equipe médica atenda o jogador dentro do gramado, como ainda dá a mão e ajuda Ademir se levantar rapidamente. Em compensação, toda vez que a bola era chutada para fora do campo, demorava uma eternidade para voltar. No fim do jogo acontece uma cena engraçadíssima, em que um torcedor do Corinthians, sem camisa e de boné, segura a bola e não a entrega para o gandula.

O jogo teve um divertido clima de várzea
Era a final do campeonato paulista, mas, em alguns aspectos, lembrava um jogo em um campinho qualquer de subúrbio: atrás dos gols havia uma verdadeira muralha de pessoas (repórteres, radialistas, funcionários dos clubes, e até, tenho certeza, torcedores). Depois do gol de Basílio e das expulsões de Oscar (zagueiro da Ponte), e Geraldão (atacante do Corinthians), uma multidão invadiu o campo. Havia tanta gente de pé na frente do banco do Corinthians que o técnico Oswaldo Brandão viu o fim do jogo de pé em cima do banco. No fim do jogo, um rojão explode a poucos metros do goleiro do Corinthians, Tobias, mas o jogo continua como se nada tivesse ocorrido.

O Morumbi estava vibrante
Quase 87 mil pessoas com bandeiras, faixas e fogos de artifício. Como era a bonita a festa em nossos estádios.

Um ótimo fim de semana a todos.

Sobre o autor

André Barcinski é jornalista, roteirista e diretor de TV. É crítico de cinema e música da “Folha de S. Paulo”. Escreveu sete livros, incluindo “Barulho” (1992), vencedor do prêmio Jabuti de melhor reportagem. Roteirizou a série de TV “Zé do Caixão” (2015), do canal Space, e dirigiu o documentário “Maldito” (2001), sobre o cineasta José Mojica Marins, vencedor do Prêmio do Júri do Festival de Sundance (EUA). Em 2019, dirigiu a série documental “História Secreta do Pop Brasileiro”.

Sobre o blog

Música, cinema, livros, TV, e tudo que compõe o universo da cultura pop estará no blog, atualizado às terças-feiras.