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Jonathan Demme não fez só “O Silêncio dos Inocentes”

André Barcinski

27/04/2017 09h15


O cineasta norte-americano Jonathan Demme, que morreu de câncer dia 26, aos 73 anos, ficou mundialmente conhecido pelos filmes "O Silêncio dos Inocentes" (1991) e "Philadelphia" (1993). Mas Demme fez outros filmes muito bons, embora pouco conhecidos.

Fiz uma seleção de cinco filmes para quem se interessa em conhecer mais sua obra. Em ordem cronológica:

"Crazy Mama" (1975)


No começa da carreira, Demme dirigiu e escreveu diversos filmes B para Roger Corman, e esse é um dos mais conhecidos. É uma espécie de "Bonnie and Clyde", um "road movie" em que bandidos saem pelos Estados Unidos barbarizando pequenas cidades interioranas. Só que os bandidos, no caso, são três mulheres da mesma família: avó (Anne Sothern), mãe (Cloris Leachman) e filha (Linda Purl). Lixão divertido.

Melvin and Howard (1980)


O melhor filme de Demme depois de "O Silêncio dos Inocentes" é essa comédia de humor negro escrita pelo grande Robert Goldman (roteirista de "Um Estranho no Ninho") e inspirada na vida (real!) de um pobretão que acha o bilionário recluso Howard Hughes machucado num deserto de Nevada, após sofrer um acidente de moto, e o resgata, só para, anos depois, receber 156 milhões de dólares no testamento de Hughes. Não deve ser fácil achar (vi pela última vez há mais de 20 anos, em VHS), mas vale a pena procurar, especialmente pelas atuações de Mary Steenburgen (que ganhou um Oscar) e de Jason Robards como Howard Hughes.

Stop Making Sense (1984)


Além de filmes de ficção, Demme dirigiu muitos documentários, especialmente sobre música. "Stop Making Sense" é um filme-concerto do grupo norte-americano Talking Heads, filmado em Los Angeles em 1983. Extremamente inventivo, foi imitado um milhão de vezes em videoclipes por aí. Arnaldo Antunes certamente cansou de ver, tanto que adotou os tiques e maneirismos de David Byrne.

Totalmente Selvagem (1986)


Demme gostava de um "road movie". Aqui, um executivo caretão (Jeff Daniels) se envolve com uma deusa (Melanie Griffith, no auge da divindade), sem saber que ela é ex-namorada de um bandido violento (Ray Liotta, de "Os Bons Companheiros"). Uma comédia romântica sexy e um tanto pervertida.

Neil Young: Heart of Gold (2006)


Demme era amigo pessoal de Neil Young e fez, além desse, outros dois filmes com Young: "Neil Young Trunk Show" (2009) e "Neil Young Journeys" (2012). Mas o melhor é mesmo "Heart of Gold", filme-concerto do lançamento do disco "Prairie Wind" filmado no lindíssimo Ryman Auditorium, um teatro erguido em 1892 em Nashville e considerado um marco da música country.

Devido à morte de Jonathan Demme, adiantei texto de sexta.

Um ótimo feriado a todos. O blog volta quarta-feira.

Sobre o autor

André Barcinski é jornalista, roteirista e diretor de TV. É crítico de cinema e música da “Folha de S. Paulo”. Escreveu sete livros, incluindo “Barulho” (1992), vencedor do prêmio Jabuti de melhor reportagem. Roteirizou a série de TV “Zé do Caixão” (2015), do canal Space, e dirigiu o documentário “Maldito” (2001), sobre o cineasta José Mojica Marins, vencedor do Prêmio do Júri do Festival de Sundance (EUA). Em 2019, dirigiu a série documental “História Secreta do Pop Brasileiro”.

Sobre o blog

Música, cinema, livros, TV, e tudo que compõe o universo da cultura pop estará no blog, atualizado às terças-feiras.