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Por favor, alguém dê logo um Oscar para Isabelle Huppert!

André Barcinski

25/11/2016 05h59

Desperdício é ficar dez anos sem um filme novo de Paul Verhoeven.

Conhecido por filmes como "Robocop" (1987), "Instinto Selvagem" (1992) e "Tropas Estelares" (1997) – e também pelo abacaxi "Showgirls" (1995), o melhor filme trash de todos os tempos – o cineasta holandês volta agora com uma de suas melhores obras, "Elle".

Não é fácil definir o estilo de Verhoeven. Sempre achei seus filmes exercícios criativos de "exploitation", um tipo de cinema comumente associado a filmes B, apelativos, eróticos e violentos, mas também dotados de um humor negro e bem peculiar.

A exemplo de Brian De Palma e dos primeiros filmes de Oliver Stone – só para citar dois cineastas que também curtem uma "apelação" – Verhoeven faz filmes muitas vezes exagerados e imprevisíveis, em que os personagens não se comportam como se espera deles e agem de forma estranha e impulsiva. Os enredos de seus filmes, não raro, parecem mal escritos, de tão incomuns e fora da curva.

Em "Elle", Verhoeven parte de uma história de vingança para criar uma teia complexa de personagens sombrios, esquisitos e inesquecíveis.

Isabelle Hupert faz Michelle Leblanc, dona de uma empresa que cria videogames sanguinolentos. Michelle é atacada por um homem mascarado, que a estupra.

Ela conta o ocorrido a alguns amigos, mas não se queixa à polícia. E por uma boa razão: Michelle tem em seu passado um segredo terrível envolvendo um medonho assassinato em série. Tudo que ela quer da polícia é distância.

Ela começa a investigar a identidade do estuprador. Os suspeitos são muitos: o criminoso pode ser qualquer um dos jovens programadores de games que trabalham em sua firma, seu ex-marido, ou até seu amante, marido de sua melhor amiga. Para engrossar ainda mais a lista, surge um vizinho, um banqueiro bonitão por quem Michelle é atraída.

A casta de personagens estranhos inclui ainda a mãe de Michelle, uma coroa entupida de Botox, noiva de um garoto de programa, e o filho de Michelle, um rapaz problemático, casado com uma ninfomaníaca aproveitadora. No centro de tudo, temos Isabelle Huppert em seu melhor papel desde o fantástico "A Cerimônia" (1995, que no Brasil recebeu o título ridículo de "Mulheres Diabólicas"), de Claude Chabrol (se você ainda não viu esse "thriller", sugiro fazê-lo hoje mesmo).

A exemplo de todos os filmes que vi de Verhoeven, "Elle" mistura passagens sombrias com outras hilariantes. A perseguição do criminoso a Michelle é filmada com precisão hitchcockiana e muitos sustos; no meio, Verhoeven cria uma sequência de parto antológica, que é puro Monty Python. Assista.

Um ótimo final de semana a todos.

Sobre o autor

André Barcinski é jornalista, roteirista e diretor de TV. É crítico de cinema e música da “Folha de S. Paulo”. Escreveu sete livros, incluindo “Barulho” (1992), vencedor do prêmio Jabuti de melhor reportagem. Roteirizou a série de TV “Zé do Caixão” (2015), do canal Space, e dirigiu o documentário “Maldito” (2001), sobre o cineasta José Mojica Marins, vencedor do Prêmio do Júri do Festival de Sundance (EUA). Em 2019, dirigiu a série documental “História Secreta do Pop Brasileiro”.

Sobre o blog

Música, cinema, livros, TV, e tudo que compõe o universo da cultura pop estará no blog, atualizado às terças-feiras.